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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Herman Melville poema de Jorge Luiz Borges

Herman Melville

Sempre cercou o mar dos encentrais,
Os saxões, que o mar deram o nome
De rota da baleia, em que se juntam
As duas enormes coisas, a baleia
E os mares que longamente sulca.
Sempre foi seu mar. Quando seus olhos
Viram em alto-mar as grandes águas,
Já havia desejado e possuído
Naquele outro mar, é a da Escritura,
Ou então no dintorno dos arquétipos.
Homem, lanço-se aos mares do planeta 
È às extenuantes singraduras
E conheceu o arpão avermelhado
Por Leviatã e a raiada areia
E o perfume das noites e da aurora
E o horizonte em que o acaso espreita
E a felicidade de ser valente
E o prazer, por fim, de avistar Ítaca.
Debelador do mar, pisou a terra
Firme que é a raiz das montanhas
E na qual marca um vago itinerário, 
Quieta no tempo, a adormecida bússola.
Naquela herdada sombra dos pomares,
Melville cruza nas tardes New England
Mas habita o mar. É o opróbrio 
Do mutilado capitão do Pequod,
O mar indecifrável e as borrascas
E da brancura a abominação.
É o grande livro. É o azul Proteu.  


Referência: BORGES, Jorge Luis. Obras completas. São Paulo: Globo, 1998-1999. 3v.

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