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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A vida como uma experiência

"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos”
Marguerite Yourcenar 

O projeto

A proposta deste projeto seria de revelar os falsos Conceitos e percepções de que as Drogas geram nos Indivíduos: Dependentes químicos.

Dependência:


1. Estado ou qualidade de dependência, subordinação, sujeição.
Dep.Psiquica. Med. Compulsão a consumir certos medicamentos ou drogas porque produzem um efeito agradável ou suprem problemas como ansiedade, depressão.
“Fármaco dependência”.
“Dependência Química”.
“Alcoolista”.
“Toxicômano”.
“Drogaditos”.

  É uma condição física e psicológica causada pelo consumo constante de substâncias psicoativas. Devido a constante utilização desses tipos de drogas, o corpo humano torna-se cada vez mais dependente dos mesmo, tendo como consequência sintomas que afetam o sistema nervoso. Quando o indivíduo deixa de consumir, tem a sensação de ressaca, considerado um dos principais motivos que impedem o abandono das drogas por parte dos dependentes.
   A dependência varia consoante o vício e a frequência de consumo do individuo. Uma das áreas mais afetadas de um dependente químico é a psicológica, alterando bruscamente a sua maneira de viver e a sua interação com a sociedade.
   A dependência química é considerada uma doença crônica, que é causada pela necessidade psicológica da pessoa de buscar o prazer e evitar sensações desagradáveis, causadas pela abstinência.
A mudança é quando o sujeito. Olha antes de tudo para sua “alma”. Com a maior franqueza. E com o verdadeiro desejo de mudar de caminho. Voltar a escolher. Tornar-se responsável por suas escolhas. Sem julgamento de Certo e errado. Afinal ele já experimentou de tudo. Mas tudo para uma vida. É a saída?Aonde se quer chegar?Quais é as necessidades Básicas?

   Quando mais um Dependente de droga. Conhece sobre o assunto droga/ Uso/ Tratamento, mas ele pode: ESCOLHER/TRAÇAR NOVA METAS/VIVER OUTRAS INTENSIDADES/TORNA-SE A SI/BUSCAR RELACIONAMENTOS AUTÊNTICOS/RESPEITAR SEUS LIMITES.

Deleuze e as Drogas

“É curioso que a palavra "fé" sirva para designar um plano que vira imanência. Mas, se o cavaleiro é o homem do devir, há cavaleiros de toda espécie. Não existe até cavaleiros da droga, no sentido em que a fé é uma droga, muito diferente do sentido em que a religião é um ópio? Esses cavaleiros pretendem que a droga, em condições de prudência e de experimentação necessárias, é inseparável da instauração de um plano. E nesse plano, não só conjugam-se devires-mulher, devires-animais, devires moleculares, devires-imperceptível, mas o próprio imperceptível torna-se um necessariamente percebido, ao mesmo tempo em que a percepção torna-se necessariamente molecular: chegar a buracos, microintervalos entre as matérias, cores e sons, onde se precipitam as linhas de fuga, linhas do mundo, linhas de transparência e de secção”.

Mudar a percepção; o problema está colocado em termos corretos, porque ele dá um conjunto pregnante "da" droga, independentemente das distinções secundárias (alucinatórias ou não, pesadas ou leves, etc.). Todas as drogas concernem primeiro as velocidades, e as modificações de velocidade. O que permite descrever um agenciamento Droga, sejam quais forem as diferenças, é uma linha de causalidade perceptiva que faz com que: 1) o imperceptível seja percebido, 2) a percepção seja molecular, 3) o desejo invista diretamente a percepção e o percebido. Os americanos da beat generation já tinham se engajado nessa via, e falavam de uma revolução molecular própria à droga.”

“mais uma vez, o problema está bem colocado quando se diz que a droga faz perder as formas e as pessoas, faz funcionar as loucas velocidades de droga e as prodigiosas lentidões do após-droga, acopla umas às outras como lutadores, dá à percepção a potência molecular de captar microfenômenos, microoperações, e dá ao percebido a força de emitir partículas aceleradas ou desaceleradas, segundo um tempo flutuante que não é mais o nosso, e hecceidades que não são mais deste mundo: desterritorialização, "eu estava desorientado..." (percepção de coisas, de pensamentos, de desejo, onde o desejo, o pensamento, a coisa invadiram toda a percepção, o imperceptível enfim percebido). Nada mais que o mundo das velocidades e das lentidões sem forma, sem sujeito, sem rosto. Nada mais que o ziguezague de uma linha, como "a correia do chicote de um carroceiro em fúria", que rasga rostos e paisagens. Todo um trabalho rizomático da percepção, o momento em que desejo e percepção se confundem.”

“Esse problema de uma causalidade específica é importante. Enquanto se invoca causalidades mais gerais ou extrínsecas, psicológicas, sociológicas, para dar conta de um agenciamento, é como se não se dissesse nada. Hoje instaurou-se um discurso sobre a droga que só faz agitar generalidades sobre o prazer e a infelicidade, sobre as dificuldades de comunicação, sobre causas que vêm sempre de outra parte. Mais finge-se compreender um fenômeno quanto mais se é incapaz de captar sua causalidade própria em extensão. Sem dúvida, um agenciamento jamais comporta uma infra-estrutura causai. Ele comporta, no entanto, e no mais alto ponto, uma linha abstrata de causalidade específica ou criadora, sua linha de fuga, de desterritorialização, que só pode efetuar-se em relação com causalidades gerais ou de uma outra natureza, mas que não se explica absolutamente por elas. Nós dizemos que os problemas de droga só podem ser captados no nível onde o desejo investe diretamente a percepção, e onde a percepção.A droga aparece então como o agente desse devir. É aí que haveria uma fármaco-análise que seria preciso ao mesmo tempo comparar e opor à psicanálise, pois em relação a esta há motivos para fazer dela ao mesmo tempo um modelo, um oposto e uma traição. A psicanálise, com efeito, pode ser considerada como um modelo de referência porque, em relação a fenômenos essencialmente afectivos, ela soube construir o esquema de uma causalidade própria, distinto das generalidades psicológicas ou sociais ordinárias. Mas esse esquema causai permanece tributário de um plano de organização que nunca pode ser captado por si mesmo, sempre concluído de  outra coisa, inferido, subtraído ao sistema da percepção, e que recebe precisamente o nome de Inconsciente. O plano do Inconsciente permanece, portanto, um plano de transcendência, que deve caucionar, justificar a existência do psicanalista e a necessidade de suas interpretações. Esse plano do Inconsciente opõe-se molarmente ao sistema percepção-consciência e, como o desejo deve ser traduzido para esse plano, ele próprio é acorrentado a robustas molaridades como à face oculta do iceberg (estrutura de Édipo ou rochedo da castração). Então, quanto mais o imperceptível opõe-se ao percebido numa máquina dual, mais ele permanece imperceptível. Tudo muda num plano de consistência ou de imanência, que se encontra necessariamente percebido por conta própria ao mesmo tempo em que é construído: a experimentação substitui a interpretação; o inconsciente tornado molecular, não figurativo e não simbólico, é dado enquanto tal às micropercepções; o desejo investe diretamente o campo perceptível onde o imperceptível aparece como o objeto percebido do próprio desejo, "o nãofigurativo do desejo".

"O inconsciente não designa mais o princípio oculto do plano de organização transcendente, e sim o processo do plano de consistência imanente, à medida que ele aparece em si mesmo ao longo de sua construção, pois o inconsciente está para ser feito e não para ser reencontrado. Não há mais uma máquina dual consciência-inconsciente, porque o inconsciente está, ou melhor, é produzido aí onde a consciência é levada pelo plano. A droga dá ao inconsciente a imanência e o plano que a psicanálise não parou de deixar escapar (pode ser, desse ponto de vista, que o célebre episódio da cocaína tenha marcado uma virada, forçando Freud a renunciar a uma aproximação direta do inconsciente). Mas, se é verdade que a droga remete a essa causalidade perceptiva molecular, imanente, resta toda a questão de saber se ela consegue efetivamente traçar o plano que condiciona seu exercício. Ora, a linha causal da droga, sua linha de fuga, não para de ser segmentarizada na forma, a mais dura possível, da dependência, do dopar-se, da dose e do traficante.”

“As desterritorializações permanecem relativas, compensadas pelas reterritorializações as mais abjetas, de modo que o imperceptível e a percepção não param de perseguir-se ou de correr um atrás do outro sem nunca acoplar-se de fato. Em vez de os buracos no mundo permitirem que as próprias linhas do mundo fujam, as linhas de fuga enrolam-se e põem-se a rodopiar em buracos negros, cada drogado em seu buraco, grupo ou indivíduo, como um caramujo. Caindo mais no buraco do que no barato. As micropercepções moleculares são recobertas de antemão, conforme a droga considerada, por alucinações, delírios, falsas percepções, fantasmas, surtos paranóicos, restaurando a cada instante formas e sujeitos, como fantasmas ou duplos que não parariam de obstruir a construção do plano.”


“Em vez de fazer um corpo sem órgãos suficientemente rico ou pleno para que as intensidades passem, as drogas erigem um corpo vazio ou vitrificado, ou um corpo canceroso: a linha causai, a linha criadora ou de fuga, vira imediatamente linha de morte e de abolição. A abominável vitrificação das veias, ou a purulência do nariz, o corpo vítreo do drogado. Buracos negros e linhas de morte, as advertências de Artaud e de Michaux se juntam (mais técnicas, mais consistentes do que o discurso sócio psicológico, ou psicanalítico, ou informacional, dos centros de assistência e de tratamento). Artaud dizendo: você não evitará as alucinações, as percepções errôneas, os fantasmas descarados ou os maus sentimentos, como tantos buracos negros nesse plano de consistência, pois tua consciência irá também nessa direção cheia de armadilhas56. Michaux dizendo: você não será mais senhor de tuas velocidades, você entrará numa corrida louca do imperceptível e da percepção, que gira mais em falso ainda porque tudo aí é relativo”.

“Você irá inchar de si mesmo, perder o controle, estar num plano de consistência, num corpo sem órgãos, mas exatamente no lugar onde você não parará de deixá-los escapar, esvaziar, e de desfazer o que você faz,
farrapo imóvel. Que palavras mais simples do que "percepções errôneas" (Artaud), "maus sentimentos" (Michaux), para dizer no entanto a coisa mais técnica: como a causalidade imanente do desejo, molecular e perceptiva, fracassa no agenciamento-droga. Os drogados não param de recair naquilo de que eles queriam fugir: uma segmentaridade mais dura à força de ser marginal, uma terrritorialização mais artificial ainda porque ela se faz sobre substâncias químicas, formas alucinatórias e subjetivações fantasmáticas. Os drogados podem ser considerados como precursores ou experimentadores que retraçam incansavelmente um novo caminho de vida; mas mesmo sua prudência não tem as condições da prudência. Então, ou eles recaem na coorte de falsos heróis que seguem o caminho conformista de uma pequena morte e um longo cansaço. Ou então, pior ainda, eles só terão servido para lançar uma tentativa que só pode ser retomada e aproveitada por aqueles que não se drogam ou que não se drogam mais, que retificam secundariamente o plano sempre abortado da droga, e descobrem pela droga o que falta à droga para construir um plano de consistência. Seria o erro dos drogados o de partir do zero a cada vez, seja para tomar droga, seja para abandoná-la, quando se precisaria partir para outra coisa, partir "no meio", bifurcar no meio? Conseguir embriagar-se, mas com água pura (Henry Miller). Conseguir drogar-se, mas por abstenção, "tomar e abster-se, sobretudo abster-se", eu sou um bebedor de água (Michaux). Chegar ao ponto onde a questão não é mais "drogar-se ou não", mas que a droga tenha mudado suficientemente as condições gerais da percepção do espaço e do tempo, de modo que os não-drogados consigam passar pelos buracos do mundo e sobre as linhas de fuga, exatamente no lugar onde é preciso outros meios que não a droga. Não é a droga que assegura a imanência, é a imanência da droga que permite ficar sem ela. É covardia, coisa de aproveitador, esperar que os outros tenham se arriscado? Antes retomar uma empreitada sempre pelo meio, mudar seus meios. Necessidade de escolher, de selecionar a boa molécula, a molécula de água, a molécula de hidrogênio ou de hélio. Não é uma questão de modelo, todos os modelos são molares: é preciso determinar as moléculas e as partículas em relação às quais as "vizinhanças" (indiscernibilidade, devires) engendram-se e se definem. O agenciamento vital, o agenciamento-vida, é teoricamente ou logicamente possível com toda espécie de moléculas."

"Não se trata de conformar-se a um modelo, mas de insistir numa linha. Os drogados não escolheram a boa molécula ou a boa linha. Toscos demais para captar o imperceptível, e para devir imperceptíveis, eles acreditaram que a droga lhes daria o plano, quando é o plano que deve destilar suas próprias drogas, permanecer senhor das velocidades e das vizinhanças.”

REFERENCIA: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. 5 v. (Coleção trans)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Dicionário dos Principais Personagens de Nietzsche por Deleuze

Águia ( e Serpente ) - São os  da animais de Zaratustra. A serpente está enrolada em torno do pescoço da águia. Ambos exprimem,pois, o eterno Retorno como aliança, como anel, como esponsais do casal divino Dionísio-Ariana. Mas exprimem-no  de maneira animal, como uma certeza imediata ou uma evidência natural. ( A essência do eterno retorno escapa-lhes, quer dizer , o seu caráter seletivo, tanto do ponto de vista do pensamento como do Ser).Por isso, fazem do eterno Retorno uma tagarelice, uma omissão. e ainda mais : a serpente desenrolada exprime o que há  de insuportável e de impossível no eterno Retorno, enquanto o tornamos como uma certeza natural segundo a qual .

Burro(ou Camelo) - São os animais do deserto (niilismo).Carruagem, carregam com fardos até o fim do deserto. O Burro tem dois defeitos: o seu Não é um falso não , um do ressentimento. E ainda mais, o seu Sim (I-A,I-A) é um falso sim. Julga que afirmar significa carregar,assumir. O Burro é , em primeiro lugar, o animal cristão: carrega com o peso dos valores ditos < superiores a vida>. Depois da morte  de Deus , carrega com o peso dos valores < humanos>, pretende assumir < o real como ele é>: por conseguinte , ele é novo deus dos . de uma ponta à outra, o Burro é a caricatura e a tradição do Sim dionisíaco;afirma, mas só afirma os produtos do niilismo. As suas longas orelhas opõe-se, pois, ás orelhas pequenas, redondas e labirínticas de Dionísio e de Ariana.

Aranha ( ou Tarântula ) - É o espirito de vingança ou de ressentimento. O seu poder de contágio é o seu  veneno. A sua vontade é uma vontade de punir e julgar.A sua arma é o fio, o fio da moral. A sua pregação é a igualdade ( que toda a gente se torne semelhante a si  mesmas!). 

Ariana ( e teseu) - É a Anima. Ela foi amada por teseu e amou-se. Mas então, precisamente, ela segurava o fio, era um pouco Aranha, fria criatura do ressentimento. Teseu é o herói, uma imagem do homem superior. Possui todas as inferioridades do : carregar, assumir, não saber renunciar , ignorar a ligeireza . Enquanto Ariana ama Teseu, e é amada por ele, a sua feminidade continuada aprisionada , ligada pelo fio. Mas quanto Dionísio-Touro se aproxima, ele aprende qual é a verdadeira afirmação, a verdadeira ligeireza. Torna-se a Anima afirmativa , que diz sim a Dionísio. Ambos constituem  o casal que constitui o eterno Retorno e engendram o Super-Homem. Porque:.

Bobo (Macaco, Anão ou Demônio)- É a criatura de Zaratustra. Imita-o, mas como a lentidão imita a ligeireza.Ele também representa o maior perigo de Zaratustra: A traição da doutrina. O bobo despreza, mas o seu desprezo vem do ressentimento. Ele é o espirito  da lentidão. Como Zaratustra, pretende ultrapassar, superar. Mas superar significa para ele: ou fazer-se carregar( subir para os ombros do homem, e do próprio Zaratustra); ou, então saltar por cima. São os dois contra-sensos possíveis sobre o < Super-Homem>. 

Cristo(São Paulo e Buda) - 1º Ele representa um momento essencial  do niilismo: o da má consciência depois  do ressentimento judaico. Mas é sempre a mesma empresa de vingança e de inimizade contra a vida; Porque o amor cristão valoriza apenas os aspectos doentes e desolados da vida. Com a sua morte, Cristo parece torna-se independente do Deus judeu : torna-se universal e . Mas encontrou apenas um novo meio de julgar , de universalizar a condenação da vida , ao interiorizar a falta (má consciência). Cristo seria morto por nós, pelos nosso pecados! Esta é. pelo menos, a interpretação de São Paulo; e foi esta interpretação que levou a melhor  na igreja  e na História . O martírio de Cristo opõe-se, pois, ao de Dionísio: num caso, a vida é julgada  e deve expiar; no outro, ela é bastante justa por si mesma para justificar tudo. < Dionísio contra o Crucificado&gt 
- 2º Mas se procuramos, sob a interpretação paulista , qual era o tipo pessoal de Cristo, Advínhamos que Cristo pertence ao de uma  maneira completamente diferente. Ele é doce, alegre, não condena, indiferente a qualquer culpabilidade; apenas quer morrer, deseja a morte. Por isso, testemunha um grande avanço sobre São Paulo e já  representa o estádio supremo do niilismo, o do ultimo homem ou mesmo do homem que quer morrer:o estádio mais próximo da transmutação dionisíaca. Cristo é < o mais interpresante dos decadentes>, uma espécie  de  Buda. Ele torna possivel uma transmutação; deste ponto  de vista, a síntese de Dionísio e de Cristo torna-se ela própria possivel: < Dionísio-Crucificado> .

Dionísio- Sobre os diferentes aspectos de Dionísio,  1º em relação com Apolo: 2º em oposição com Sócrates;3º em contradição com Cristo; 4º em complementaridade com Ariana, cf. a exposição precedente da filosofia de Nietzsche e mais adiante, os textos.

Homens superiores - São múltiplos, mas testemunhas um mesmo empreendimento: depois da morte de Deus, substituir os valores divinos por valores humanos. Eles representam, pois, o devir da cultura , ou esforço para pôr o homem no lugar de Deus. Como o principio  de avaliação permanente o mesmo, como  a transmutação não é feita, eles pertencem plenamente ao niilismo e estão mais próximos do bobo de Zaratustra do que o próprio Zaratustra. São , , e não sabem rir, nem brincar nem dançar. Na ordem lógica, a sua processão é a seguinte:
O último papa: Sabe que Deus está morto, mas acredita que Deus se asfixiou a si mesmo, asfixiou-se de piedade, já não podendo suportar o seu amor pelos homens. O ultimo papa ficou sem senhor e, contudo, não é livre, vive de lembranças.
Os dois reis: Representam o movimento  da , que se propõe formar e erguer o homem, fazer um homem livre pelos meios mais violentos, mais constrangedores. Assim, há dois reis, um de esquerda para os meios, um de direita para o fim. Mas, antes como depois da morte de Deus , para os meios como para o fim, a propria moralidade dos costumes  degenera , edifica e seleciona ao  contrário, cai em proveito da (triunfo dos escravos). São os dois reis que conduzem o Burro, de que o conjunto  dos homens superiores farão o seu novo deus.
O mais ignóbil dos Homens: Foi ele que matou Deus, porque não suportava a sua piedade. Mas é sempre o velho homem, ainda mais covarde: em vez da má consciência de um Deus morto para ele, experimenta  a má consciência de um Deus morto por ele; em vez de piedade vinda de Deus, conhece  a piedade  vinda dos homens, a piedade da populaça, ainda mais suportável. É ele que dirige a litania do Burro e suscita o Falso .
O homem sanguesuga: Quis substituir  os valores divinos, a religião e até a moral pelo conhecimento.O conhecimento deve ser cientifico,exato, incisivo:pouco importa então que o seu objeto seja pequeno ou grande; o conhecimento exato da mais pequenas coisa substituirá a nossa crença nos valores vagos.Esta é a razão por que um homem dá o seu braço à sanguessuga,  e dá-se ´por tarefa  e por ideal conhecer  uma coisa pequeníssima: o cérebro da sanguessuga ( sem remontar às causa primeiras).Mas o homem da sanguessuga não sabe que o conhecimento é a própria sanguessuga e que toma o lugar da moral e da religião, perseguindo o mesmo fim delas: fazer uma incisão na vida, mutilar e julgar a vida.
O Mendigo volutuário: Renunciou ao próprio conhecimento. Apenas acredita na felicidade humana, procura  a felicidade na terra. Mas a felicidade humana por mais simples que seja, não se encontra mesmo entre  a populaça, animada pelo ressentimento e pela má consciência. A felicidade humana só se encontra entre as vacas.
O Encantador: É o homem de má consciência , que se persegue tanto sob o reinado de Deus como depois da morte de Deus. A má consciência é essencialmente comediante, exibicionista. Ela desempenha todos os papéis, mesmo o do ateu, mesmo o do poeta, mesmo o de Ariana. Mas mente e recrimina sempre. Ao dizer < é o meu erro>, ela quer suscitar a piedade, inspirar a própria culpabilidade àqueles que são fortes , envergonhar tudo o que é vivo, propagar o seu veneno.< A tua queixa contém uma armadilha!>
A Sombra viajante: É a actividade da cultura que, por parte, procurou realizar o seu fim ( o homem livre, selecionado e construído): sob o reino de Deus, depois da morte de Deus, no conhecimento , na felicidade,etc.Ela falhou o seu fim em toda a parte, porque este fim é também uma Sombra. Este fim, o Homem superior, é ele mesmo falhado, imperfeito. É a Sombra de Zaratustra, nada mais do que a sua sombra, que o segue por toda a parte, mas desaparece na duas horas importantes da Transmutação, Meia-Noite e Meio-Dia.
O Adivinho: Diz . Anuncia o último estádio do niilismo: o momento em que o homem, tendo medido a fragilidade do seu esforço para substituir Deus, preferirá já não querer tudo, de preferencia  a querer o nada.O adivinho anuncia, pois, o ultimo Homem, prefigurando o fim do niilismo, ele já mais longe do que os homens superiores. Mas o que lhe escapa é aquilo que está ainda além do último homem: o homem que quer morrer,o homem que quer seu próprio declínio. Com este, o niilismo culmina realmente, é vencido por si mesmo: a transmutação e o super-homem estão próximos.

Zaratustra ( e o Leão) - Zaratustra não é dionísio, mas apenas o seu profeta. Há duas maneiras de exprimir esta subordinação. Poderíamos dizer primeiro que Zaratustra se mantém no -não-. Sem Duvida, este Não já não é o do niilismo: é o - Não sagrado- do Leão. É a destruição de todos os valores estabelecidos, divinos e humanos, que compunham precisamente o niilismo. É o -Não- trans-niilista inerente à transmutação. Também Zaratustra parece ter acabado a sua tarefa ao mergulhar as suas  mãos na juba do Leão. Mas, na verdade, Zaratustra  não permanece no Não, mesmo sagrado e transmutante.Participa plenamente  da afirmação dionisíaca , ele é já  a ideia desta afirmação, a ideia  de Dionísio. Da mesma maneira que dionísio celebra os esponsais com Ariana no eterno Retorno, Zaratustra encontra a sua noiva no eterno Retorno. Da mesma maneira que Dionísio é o pai do Super-Homem, Zaratustra chama filho ao Super-Homem. No entanto, Zaratustra é ultrapassado pelos seus próprios filhos; e ele não passa de pretendente, não é o elemento constituinte do anel do Eterno Retorno. Produz menos o Super-Homem do que assegura esta produção no homem, criando todas as condições nas quais o homem se ultra-passa e nas quais o Leão se torna Criança.



Referência: DELEUZE, GILLES, 1925-. Nietzsche. São Paulo: Martins Fontes, 1985. 87 p. (Biblioteca básica de filosofia ; 16)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Nota porque não sou Ateu.

Porque não sou Ateu!

Recebi em graça e espontaneidade fé em Cristo Jesus. Isto se  demonstrou ir além da compreensão racional. Dizer Sim a Jesus Cristo como o Senhor e salvador da humanidade. Me faz perceber que conhecer as doutrinas,e as várias religiões*(delas eu vi as faces de Deus), saber as histórias não bastam para o lado Místico, que O Cristo VIVO É. Ainda a fé e conversão são sempre e serão o maior milagre que pode acontecer para uma pessoa na terra, pois há vida cheia de falhas e equívocos estas serão até o leito da morte uma das essências do que é o Humano.
A superação da razão para  compreensão do sagrado. E do sim cego e desconcertante de Jesus Cristo é a dimensão oculta. Do homem que na verdade carece do vazio existencial. Falha por natureza. Assim a expressão desta fé, se revela nas atitudes e comportamentos, “nas suas obras”, mas todos os homens agem, então. Só Deus pode conhecer o coração e intenção verdadeira dos Homens. Então não se preocupe muito com seu irmão. Se não com você mesmo primeiro. “Ame teu próximo como a ti mesmo”.

O inexplicável de toda história de Jesus deixem que os outros sem fé, procurem suas “não-razões”. Enquanto isto aquele que com fé guardar a boa-nova para este será dado a compreender também fragmentos da História Revelada. “O justo viverá pela Fé.”

Existem sim forças ocultas aos sentidos dos homens que regem e cuidam da realidade.
Cabe ao homem direcionar suas intenções.
E não culpar Deus. 
Pela suas má escolha.

* Religião: Busca humana de dizer e transmitir o Sagrado/Mistico.
*Todas as Religiões(ou as que fundamentam tantas outras) me apresentaram uma coisa Única: a fragilidade Humana.
 e todas elas Uma face de Deus.

*Hinduísmo- 1500 a.C
*Budismo.-560 a.C
*Confucionismo.-551 a.C
*Taoismo.-VI séc. a.C
*Xintoísmo.-500 d.C
*Religiões Africanas.:"Segundo a tradição, os deuses do "candomblé" têm origem nos ancestrais dos clãs africanos, divinizados há mais de 5 000 anos."
*Judaísmo.-1800 a.C
*Islã.-570 d. C
*Cristianismo.- a cerca de 2 mil anos permeia a História.



Referencia: GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005. 335 p.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Vivência/Movimento/Recorte

Cinema 

Persona-
Persona (br: Quando duas mulheres pecam / pt: A máscara) é um filme sueco de 1966, do gênero drama, escrito e dirigido por Ingmar Bergman.


Morangos Silvestres-
Smultronstället (br / pt: Morangos Silvestres) é um premiado filme sueco de 1957, do gênero drama, escrito e dirigido por Ingmar Bergman.


Audition-
Audition é um filme de terror japonês 1999 dirigido por Takashi Miike e Ryo Ishibashi e estrelado por Eihi Shiina. É baseado em um romance Murakami Ryu com o mesmo título.


A morte de um bookmaker Chines-
Um filme de John Cassavetes com Ben Gazzara, Timothy Carey : Cosmo Vitelli (Ben Gazzara) é o dono de uma boate de striptease em Los Angeles.


O mensageiro do Diabo-
The Night of the Hunter é um filme de 1955, dirigido por Charles Laughton, com Robert Mitchum e Shelley Winters. Conhecido no Brasil como O mensageiro do Diabo (Night of the Hunter)e em Portugal como A sombra do caçador.


Os 120 dias em Sodoma-
Salò ou os 120 dias de Sodoma (em Língua italiana Salò o le 120 giornate di Sodoma) é um polêmico filme italiano de 1975 dirigido pelo diretor Pier Paolo Pasolini.
O filme foi inspirado no livro Os 120 Dias de Sodoma do Marquês de Sade e conta a história de um grupo de jovens que sofre uma série de torturas por quatro fascistas durante o ano de 1944, quando a Itália era dirigida por Mussolini.


Amarcord-
Amarcord é um filme de produção franco-italiana de 1973, do gênero comédia dramática, dirigido pelo cineasta italiano Federico Fellini.


A ultima sessão de cinema-
The Last Picture Show (br: A Última Sessão de Cinema / pt: A Última Sessão) é um filme estadunidense de 1971, do gênero drama, realizado por Peter Bogdanovich.


Fargo-
Fargo é um filme de drama e humor negro dos Estados Unidos de 1996, realizado por Joel Coen.


Jogos Perigosos-
Um filme de Michael Haneke com Susanne Lothar, Ulrich Mühe : Uma família de classe média alta vai passar as férias em sua casa à beira de um lago.


Presiosa : uma História de esperança-

Precious (Precious (título em Portugal) ou Preciosa - Uma História de Esperança (título no Brasil)) é um filme de drama de 2009 do produtor e diretor Lee Daniels, estrelando Gabourey Sidibe, Paula Patton, Mariah Carey, Lenny Kravitz e Mo'Nique.

Fita Branca-

Das weiße Band (A Fita Branca (título no Brasil) ou O Laço Branco (título em Portugal)) é um premiado filme austríaco de 2009 dirigido por Michael Haneke, sobre um coral de crianças em uma vila no norte da Alemanha pouco antes da Primeira Guerra Mundial. De acordo com Haneke, o filme é sobre "a origem de todo tipo de terrorismo, seja ele de natureza política ou religiosa".
Venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 20092 e o Globo de Ouro de Melhor Filme (estrangeiro), em 17 de janeiro de 2010.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A irreversibilidade e o poder de perdoar ,Hannah Arendt

"O trecho a seguir é extraído do livro "A condição humana", de Hannah Arendt, publicado em meados da década de 50. Possivelmente é sua resposta à questão colocada à época, na qual se demonstrava o espanto de a humanidade continuar, após todos os desastres coletivos que se presenciou. Arendt, que fugiu para os Estados Unidos em decorrência direta de um dos desastres."(fonte:http://sevocedissertudooquequiser.blogspot.com.br/2013/01/a-irreversibilidade-e-o-poder-de-perdoar.html)


A irreversibilidade e o poder de perdoar



    Vimos que o que o animal laborans pôde ser redimido das vicissitudes do aprisionamento no ciclo sempre-recorrente do processo vital, da eterna sujeição à necessidade do trabalho e do consumo, unicamente mediante a mobilização de outra capacidade humana: a capacidade do homo faber de fazer, fabricar e produzir [making,and producing], o qual, como fazedor de instrumentos , não só atenua as labutas e penas do trabalho como erige um mundo de durabilidade. A redenção da vida, sustentada pelo trabalho, é a mundaniedade , sustentada pela fabricação. Vimos também, que o Homo Faber pôde ser remédio das vicissitudes da ausência de significado, “a desvalorização de todos os valores”, e da impossibilidade de encontrar critérios válidos em um mundo determinado pela categoria de meio e fins unicamente por meio da faculdade inter-relacionadas da ação e do discurso , que produzem estórias significativas com a mesma naturalidade com que a fabricação produz objeto de uso. E , se isso não estivesse fora do escopo destas considerações do pensamento ; pois o pensamento também é incapaz de “se pensar” fora das vicissitudes engendradas pela própria atividade de pensar. Em cada um destes casos , o que salva o homem -do animal laborans , homo faber ou pensador – é algo inteiramente diferente, algo que vem de fora, não do homem, por certo, mas de cada uma das respectivas atividades. Do que ele seja também um ser que conhece o mundo e nele habita; do ponto de vista do homo Faber, parece milagre , uma espécie de revelação divina, o fato de o significado ter um ligar neste mundo.
    Ocaso da ação e de suas vicissitudes é bem diferente . O remédio para a imprevisibilidade , para caótica incerteza do futuro, está contido na faculdade de prometer e cumprir promessas . As duas faculdades formam um par, pois a primeira delas , a de perdoar, serve para desfazer os atos do passado, cujos “pecados” pendem como espada de Dâmocles sobre cada nova geração; a segunda, o obrigar-se através de promessas,serve para instauras no futuro, que é por definição um oceano de incertezas, ilhas de segurança sem as quais nem mesmo a continuidade,sem falar da durabilidade de qualquer espécie, seria possível nas relações entre os homens.
    Se não fôssemos perdoados, liberados das consequências daquilo que fizemos, nossa capacidade de agir ficaria, por assim dizer, limitada a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos; seriamos para sempre vítimas de suas consequências, à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço.Sem estarmos obrigados ao cumprimento de promessas, jamais seriamos capazes de conservar nossa identidade; seriamos condenados a errar, desamparados e sem rumo, nas trevas do coração de cada homem, enredados em suas contradições e seus equívocos – trevas que só podem ser dissipados pela luz derramada no domínio público pela presença de outros, que confirmam a identidade entre aquele que promete e aquele que cumpre. Ambas as faculdades , por tanto dependem da pluralidade, da presença e da ação de outros, pois ninguém pode perdoar a si mesmo e ninguém pode se sentir obrigado por uma promessa feita apenas para si mesmo; o perdão e a promessa realizados na solitude e no isolamento permanecem sem realidade e não podem significar mais do que um papel que a pessoa encena para si mesma.
    Uma vez essas faculdades correspondem tão à condição humana da pluralidade, o papel que desempenham na política estabelece um conjunto de princípios orientadores diametralmente opostos aos padrões “morais” inerentes à noção platônica de governo. Pois o governo platônico, cuja legitimidade baseava-se no domínio do si-mesmo, extrai seus princípios orientadores -aqueles que justificam e ao mesmo tempo limitam o poder sobre outros – de uma relação estabelecida entre mim mesmo, de sorte que o certo e o errado nas relações com os outros são determinados pelas atitudes com relação ao si mesmo, até que todo o domínio publico passa ser visto à imagem do “homem escrito em maiúsculo”, da ordem adequada entre as capacidades individuais da mentes , da alma e do corpo do homem.Por outro lado, o código moral inferido das faculdades de perdoar e de prometer basear-se em experiências que ninguém jamais pode ter consigo mesmo e que , ao contrário, se baseiam inteiramente na presença de outros . E , do mesmo modos como a dimensão e as formas de governo de si[self-rule] justificam e determinam o governo dos outros – governa-se os outros como se governa a si mesmo -, também a dimensão e as formas do perdão e das promessas que o indivíduo recebe determinam a dimensão e as formas do perdão que ele pode ser capaz de conceder a si próprio ou do cumprimento de promessas que só a ele dizem respeito.
    Como os remédios contra o enorme vigor e resiliência dos processos da ação só são eficazes na condição de pluralidade, é muito perigosos usar esta faculdade em qualquer domínio que não assuntos humanos. A tecnologia e a ciência natural moderna, que já não colhem materiais natureza , nem observam e nem imitam seus processo, mas parecem realmente agir nela, aparentemente introduziram , por isso mesmo irreversibilidade e a imprevisibilidade humanas no domínio da natureza ,onde não há remédio para desfazer o que foi feito. Analogamente, parece que um dos grandes perigos de agir nos moldes da fabricação e dentro da estrutura de sua categoria de meios e fins reside na concomitante autoprivação dos remédios inerentes apenas à a ação, de modo que se é obrigado não só a fazer [do] recorrendo aos meios da violência necessários a toda fabricação, mas também a desfazer [undo] o que foi feito por meio da destruição como se destrói um objeto que não deu certo. Nada aparece de modo tão evidente nessas tentativas quanto a grandeza do poder humano cuja fonte reside na capacidade de agir e que, sem os remédios inerentes à ação, começa inevitavelmente a subjugar e a destruir, não o próprio homem, mas as condições nas quais a vida lhe foi dada.
    O descobridor do papel do perdão no domínio dos assuntos humanos foi Jesus de Nazaré. O fato de que ele tenha feito essa descoberta em um contexto religioso e a tenha anunciado em linguagem religiosa não é motivo para levá-la mesmo a sério em um sentido estritamente secular. È da natureza de nossa tradição de pensamento político (por móvitos nos quais não podemos nos deter aqui) ser altamente seletiva e excluir da conceituação articulada grande variedade de experiência políticas autenticas, entre as quais não se surpreendente encontrar algumas natureza elementar. Certos aspectos dos ensinamentos de Jesus de Nazaré que não relacionam basicamente com a mensagem cristã,mas surgiram de experiências da pequena e coesa comunidade e de seus seguidores,. Inclinada a desafiar as autoridades públicas de Israel, certamente incluem-se entre essas experiências políticas autenticas, embora tenham sido negligenciados me virtude de sua suposta natureza exclusivamente religiosa. O único sinal rudimentar da percepção de que i perdão pode ser corretivo necessário aos danos inevitáveis que resultam da ação pode ser visto no principio romano de poupar os vendidos (parecere subienctis) – uma sabedoria dos gregos desconheciam totalmente – ou no direito de comutar a pensa de morte, provavelmente também de origem romana que é a prerrogativa de quase todos os chefes de Estado ocidentais.
    È crucial pra nosso contexto que Jesus sustente contras os “escribas e fariseus”,que , em primeiro lugar , não é verdade que somente Deus tenha o poder de perdoar”, e em segundo lugar , que esse poder não deriva de Deus - como se Deus , e não os homens através de seres humanos-, mas, ao contrário deve ser mobilizado pelos homens entre si , antes que possam esperar serem perdoados também por Deus . A formulação de Jesus é radical. No evangelho não s expões que o homem perdoe sempre DEUS perdoa, e ele portanto, tem de fazer “o mesmo”m e sim “se cada um, no intimo do coração , perdoar, Deus fará “ o mesmo”. O motivo da insistência sobre um dever de perdoar é obviamente, que “eles não sabem o que fazem”, e não se aplica ao caso extremo do crime e do mal voluntário, pois do contrário não teria sido necessário ensinar que, “ se ele te ofender sete vezes no dia, e sete vezes no dia retornar a ti dizendo “me arrependo”, tu o perdoarás. O crime e o mal voluntário são raros, mais raros talvez que as boas ações; segundo Jesus, Deus se encarrega dele no dia do Juízo Final, que nenhum papel desempenha na vida terrena e tampouco se caracteriza pelo perdão, mas pela justa retribuição (apodounai).A ofensa, contudo, é uma ocorrência cotidiana , decorrência natural do fato de que a ação estabelece constantemente novas relações um teia de relações, e precisa do perdão , da libertação, para possibilitar que a vida possa continuar, desobrigado constantemente os homens daquilo que fizeram sem o saber.Somente mediante essa mutua e constante desobrigação do que fazem os homens podem ser agentes livres ; somente com a constante disposição para mudar de ideia e recomeçar pode-se confiar a eles um poder tão grande quanto o de começar algo novo.A irreversibilidade e o poder de perdoar
     Vimos que o que o animal laborans pôde ser redimido das vicissitudes do aprisionamento no ciclo sempre-recorrente do processo vital, da eterna sujeição à necessidade do trabalho e do consumo, unicamente mediante a mobilização de outra capacidade humana: a capacidade do homo faber de fazer, fabricar e produzir [making,and producing], o qual, como fazedor de instrumentos , não só atenua as labutas e penas do trabalho como erige um mundo de durabilidade. A redenção da vida, sustentada pelo trabalho, é a mundaneidade , sustentada pela fabricação. Vimos também, que o Homo Faber pôde ser remédio das vicissitudes da ausência de significado, “a desvalorização de todos os valores”, e da impossibilidade de encontrar critérios válidos em um mundo determinado pela categoria de meio e fins unicamente por meio da faculdade inter-relacionadas da ação e do discurso , que produzem estórias significativas com a mesma naturalidade com que a fabricação produz objeto de uso. E , se isso não estivesse fora do escopo destas considerações do pensamento ; pois o pensamento também é incapaz de “se pensar” fora das vicissitudes engendradas pela própria atividade de pensar. Em cada um destes casos , o que salva o homem -do animal laborans , Homo Faber ou pensador – é algo inteiramente diferente, algo que vem de fora, não do homem, por certo, mas de cada uma das respectivas atividades. Do que ele seja também um ser que conhece o mundo e nele habita; do ponto de vista do Homo Faber, parece milagre , uma espécie de revelação divina, o fato de o significado ter um ligar neste mundo.
   Ocaso da ação e de suas vicissitudes é bem diferente . O remédio para a imprevisibilidade , para caótica incerteza do futuro, está contido na faculdade de prometer e cumprir promessas . As duas faculdades formam um par, pois a primeira delas , a de perdoar, serve para desfazer os atos do passado, cujos “pecados” pendem como espada de Dâmocles sobre cada nova geração; a segunda, o obrigar-se através de promessas,serve para instauras no futuro, que é por definição um oceano de incertezas, ilhas de segurança sem as quais nem mesmo a continuidade,sem falar da durabilidade de qualquer espécie, seria possível nas relações entre os homens.
   Se não fôssemos perdoados, liberados das consequências daquilo que fizemos, nossa capacidade de agir ficaria, por assim dizer, limitada a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos; seriamos para sempre vítimas de suas consequências, à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço.Sem estarmos obrigados ao cumprimento de promessas, jamais seriamos capazes de conservar nossa identidade; seriamos condenados a errar, desamparados e sem rumo, nas trevas do coração de cada homem, enredados em suas contradições e seus equívocos – trevas que só podem ser dissipados pela luz derramada no domínio público pela presença de outros, que confirmam a identidade entre aquele que promete e aquele que cumpre. Ambas as faculdades , por tanto dependem da pluralidade, da presença e da ação de outros, pois ninguém pode perdoar a si mesmo e ninguém pode se sentir obrigado por uma promessa feita apenas para si mesmo; o perdão e a promessa realizados na solitude e no isolamento permanecem sem realidade e não podem significar mais do que um papel que a pessoa encena para si mesma.
   Uma vez essas faculdades correspondem tão peto à condição humana da pluralidade, o papel que desempenham na política estabelece um conjunto de princípios orientadores diametralmente opostos aos padrões “morais” inerentes à noção platônica de governo. Pois o governo platônico, cuja legitimidade baseava-se no domínio do si-mesmo, extrai seus princípios orientadores -aqueles que justificam e ao mesmo tempo limitam o poder sobre outros – de uma relação estabelecida entre mim mesmo, de sorte que o certo e o errado nas relações com os outros são determinados pelas atitudes com relação ao si mesmo, até que todo o domínio publico passa ser visto à imagem do “homem escrito em maiúsculo”, da ordem adequada entre as capacidades individuais da mentes , da alma e do corpo do homem.Por outro lado, o código moral inferido das faculdades de perdoar e de prometer basear-se em experiências que ninguém jamais pode ter consigo mesmo e que , ao contrário, se baseiam inteiramente na presença de outros . E , do mesmo modos como a dimensão e as formas de governo de si[self-rule] justificam e determinam o governo dos outros – governa-se os outros como se governa a si mesmo -, também a dimensão e as formas do perdão e das promessas que o indivíduo recebe determinam a dimensão e as formas do perdão que ele pode ser capaz de conceder a si próprio ou do cumprimento de promessas que só a ele dizem respeito.
   Como os remédios contra o enorme vigor e resiliência dos processos da ação só são eficazes na condição de pluralidade, é muito perigosos usar esta faculdade em qualquer domínio que não assuntos humanos. A tecnologia e a ciência natural moderna, que já não colhem materiais natureza , nem observam e nem imitam seus processo, mas parecem realmente agir nela, aparentemente introduziram , por isso mesmo irreversibilidade e a imprevisibilidade humanas no domínio da natureza ,onde não há remédio para desfazer o que foi feito. Analogamente, parece que um dos grandes perigos de agir nos moldes da fabricação e dentro da estrutura de sua categoria de meios e fins reside na concomitante autoprivação dos remédios inerentes apenas à a ação, de modo que se é obrigado não só a fazer [do] recorrendo aos meios da violência necessários a toda fabricação, mas também a desfazer [undo] o que foi feito por meio da destruição como se destrói um objeto que não deu certo. Nada aparece de modo tão evidente nessas tentativas quanto a grandeza do poder humano cuja fonte reside na capacidade de agir e que, sem os remédios inerentes à ação, começa inevitavelmente a subjugar e a destruir, não o próprio homem, mas as condições nas quais a vida lhe foi dada.
   O descobridor do papel do perdão no domínio dos assuntos humanos foi Jesus de Nazaré. O fato de que ele tenha feito essa descoberta em um contexto religioso e a tenha anunciado em linguagem religiosa não é motivo para levá-la mesmo a sério em um sentido estritamente secular. È da natureza de nossa tradição de pensamento político (por móvitos nos quais não podemos nos deter aqui) ser altamente seletiva e excluir da conceituação articulada grande variedade de experiência políticas autenticas, entre as quais não se surpreendente encontrar algumas natureza elementar. Certos aspectos dos ensinamentos de Jesus de Nazaré que não relacionam basicamente com a mensagem cristã,mas surgiram de experiências da pequena e coesa comunidade e de seus seguidores,. Inclinada a desafiar as autoridades públicas de Israel, certamente incluem-se entre essas experiências políticas autenticas, embora tenham sido negligenciados me virtude de sua suposta natureza exclusivamente religiosa. O único sinal rudimentar da percepção de que i perdão pode ser corretivo necessário aos danos inevitáveis que resultam da ação pode ser visto no principio romano de poupar os vendidos (parecere subienctis) – uma sabedoria dos gregos desconheciam totalmente – ou no direito de comutar a pensa de morte, provavelmente também de origem romana que é a prerrogativa de quase todos os chefes de Estado ocidentais.
   È crucial pra nosso contexto que Jesus sustente contras os “escribas e fariseus”,que , em primeiro lugar , não é verdade que somente Deus tenha o poder de perdoar”, e em segundo lugar , que esse poder não deriva de Deus - como se Deus , e não os homens através de seres humanos-, mas, ao contrário deve ser mobilizado pelos homens entre si , antes que possam esperar serem perdoados também por Deus . A formulação de Jesus é radical. No evangelho não s expões que o homem perdoe sempre DEUS perdoa, e ele portanto, tem de fazer “o mesmo”m e sim “se cada um, no intimo do coração , perdoar, Deus fará “ o mesmo”. O mativo da insistnecia sobre um dever de perdoar é obviamente, que “eles não sabem o que fazem”, e não se aplica ao caso extremo do crime e do mal voluntário, pois do contrário não teria sido necessário ensinar que, “ se ele te ofender sete vezes no dia, e sete vezes no dia retornar a ti dizendo “me arrependo”, tu o perdoarás. O crime e o mal voluntário sõa raros, mais raros talvez que as boas ações; segundo Jesus, Deus se encarrega dele no dia do Juízo Final, que nenhum papel desempenha na vida terrena e tampouco se caracteriza pelo perdão, mas pela justa retribuição (apodounai).A ofensa, contudo, é uma ocorrência cotidiana , decorrência natural do fato de que a ação estabelece constantemente novas relações um teia de relações, e precisa do perdão , da libertação, para possibilitar que a vida possa continuar, desobrigado constantemente os homens daquilo que fizeram sem o saber.Somente mediante essa mutua e constante desobrigação do que fazem os homens podem ser agentes livres ; somente com a constante disposição para mudar de ideia e recomeçar pode-se confiar a eles um poder tão grande quanto o de começar algo novo.


(ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Adriano Correia. Ed. Gen, Forense Universitária, 11ª edição, pp. 295-300). 

Herman Melville poema de Jorge Luiz Borges

Herman Melville

Sempre cercou o mar dos encentrais,
Os saxões, que o mar deram o nome
De rota da baleia, em que se juntam
As duas enormes coisas, a baleia
E os mares que longamente sulca.
Sempre foi seu mar. Quando seus olhos
Viram em alto-mar as grandes águas,
Já havia desejado e possuído
Naquele outro mar, é a da Escritura,
Ou então no dintorno dos arquétipos.
Homem, lanço-se aos mares do planeta 
È às extenuantes singraduras
E conheceu o arpão avermelhado
Por Leviatã e a raiada areia
E o perfume das noites e da aurora
E o horizonte em que o acaso espreita
E a felicidade de ser valente
E o prazer, por fim, de avistar Ítaca.
Debelador do mar, pisou a terra
Firme que é a raiz das montanhas
E na qual marca um vago itinerário, 
Quieta no tempo, a adormecida bússola.
Naquela herdada sombra dos pomares,
Melville cruza nas tardes New England
Mas habita o mar. É o opróbrio 
Do mutilado capitão do Pequod,
O mar indecifrável e as borrascas
E da brancura a abominação.
É o grande livro. É o azul Proteu.  


Referência: BORGES, Jorge Luis. Obras completas. São Paulo: Globo, 1998-1999. 3v.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Falência do Prazer e do Amor -Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

A Falência do Prazer e do Amor
Terceiro Tema
 
I
Beber a vida num trago, e nesse trago
Todas as sensações que a vida dá
Em todas as suas formas [...]
.....................................................................
Dantes eu queria
Embeber-me nas árvores, nas flores,
Sonhar nas rochas, mares, solidões.
Hoje não, fujo dessa idéia louca:
Tudo o que me aproxima do mistério
Confrange-me de horror.  Quero hoje apenas
Sensações, muitas, muitas sensações,
De tudo, de todos neste mundo — humanas,
Não outras de delírios panteístas
Mas sim perpétuos choques de prazer 
Mudando sempre,
Guardando forte a personalidade 
Para sintetizá-las num sentir.
             Quero
Afogar em bulício, em luz, em vozes, 
— Tumultuárias [cousas] usuais —
o sentimento da desolação
Que me enche e me avassala.
              Folgaria
De encher num dia, [...] num trago,
A medida dos vícios, inda mesmo
Que fosse condenado eternamente —
Loucura! — ao tal inferno,
A um inferno real.

II
Alegres camponeses, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n'alma essa alegria!
.....................................................................
Nem em criança, ser predestinado,
Alegre eu era assim; no meu brincar,
Nas minhas ilusões da infância, eu punha 
O mal da minha predestinação.
.....................................................................
Acabemos com esta vida assim!
Acabemos! o modo pouco importa!
Sofrer mais já não posso.  Pois verei —
Eu, Fausto — aqueles que não sentem bem
Toda a extensão da felicidade,
Gozá-la?
.....................................................................
                Ferve a revolta em mim
Contra a causa da vida que me fez
Qual sou.  E morrerei e deixarei
Neste inundo isto apenas: uma vida
Só prazer e só gozo, só amor,
Só inconsciência em estéril pensamento
E desprezo [...]
Mas eu como entrarei naquela vida?
Eu não nasci para ela.

III
Melodia vaga
Para ti se eleva
E, chorando, leva
O teu coração,
Já de dor exausto,
E sonhando o afaga.
Os teus olhos, Fausto,
Não mais chorarão.

IV
Já não tenho alma.  Dei-a à luz e ao ruído,
Só sinto um vácuo imenso onde alma tive...
Sou qualquer cousa de exterior apenas,
Consciente apenas de já nada ser...
Pertenço à estúrdia e à crápula da noite
Sou só delas, encontro-me disperso
Por cada grito bêbedo, por cada
Tom da luz no amplo bojo das botelhas.
Participo da névoa luminosa
Da orgia e da mentira do prazer.
E uma febre e um vácuo que há em mim
Confessa-me já morto... Palpo, em torno
Da minha alma, os fragmentos do meu ser
Com o hábito imortal de perscrutar-me.

V
Perdido
No labirinto de mim mesmo, já
Não sei qual o caminho que me leva
Dele à realidade humana e clara
Cheia de luz [...] alegremente 
Mas com profunda pesadez em mim 
Esta alegria, esta felicidade,
Que odeio e que me fere [...]
.....................................................................
Sinto como um insulto esta alegria
— Toda a alegria.  Quase que sinto
Que rir, é rir — não de mim, mas, talvez,
Do meu ser.

VI
Toda a alegria me gela, me faz ódio.  
Toda a tristeza alheia me aborrece, 
Absorto eu na minha, maior muito Que outras 
[...]
.....................................................................
Sinto em mim que a minha alma não tolera 
Que seja alguém do que ela mais feliz;
O riso insulta-me, por existir;
Que eu sinto que não quero que alguém ria
Enquanto eu não puder.  Se acaso tento
Sentir, querer, só quero incoerências
De indefinida aspiração imensa,
Que mesmo no seu sonho é desmedida ...

VII
tua inconsciência alegre é uma ofensa
para    mim.  O seu riso esbofeteia-me!
Tua alegria cospe-me na cara!
Oh, com que ódio carnal e espiritual
 escarro sobre o que na alma humana 
Fria festas e danças e cantigas...
....................................................................
Com que alegria minha, cairia
Um raio entre eles!  Com que pronto
Criaria torturas para eles
Só por rirem a vida em minha cara
E atirarem à minha face pálida
O seu gozo em viver, a poeira — que arda 
Em meus olhos — dos seus momentos ocos
De infância adulta e tudo na alegria!
.....................................................................
Ó ódio, alegra-me tu sequer!
Faze-me ver a Morte. roendo a todos, 
Põe-me ria vista os vermes trabalhando
Aqueles corpos! [...]

VIII
Triste horror d'alma, não evoco já
Com grata saudade, tristemente,
Estas recordações da juventude!
Já não sinto saudades, como há pouco
Inda as sentia.  Vai-se-me embotando,
Co'a força de pensar, contínuo e árido,
Toda a verdura e flor do pensamento.
Ao recordar agora, apenas sinto,
Como um cansaço só de ter vivido,
Desconsolado e mudo sentimento
De ter deixado atrás parte de mim,
E saudade de não ter saudade,
Saudades dos tempos em que as tinha.
Se a minha infância agora evoco, vejo
— Estranho! — como uma outra criatura
Que me era amiga, numa vaga
Objetivada subjetividade.
Ora a infância me lembra, como um sonho,
Ora a uma distância sem medida
No tempo, desfazendo-me em espanto;
E a sensação que sinto, ao perceber
Que vou passando, já tem mais de horror
Que tristeza [...]
E nada evoca, a não ser o mistério
Que o tempo tem fechado em sua mão.
Mas a dor é maior!

IX
Ó vestidas razões!  Dor que é vergonha
E por vergonha de si-própria cala
A si-mesma o seu nexo! Ó vil e baixa
Porca animalidade do animal,
Que se diz metafísica por medo
A saber-se só baixa ...
.....................................................................
Ó horror metafísico de ti!
Sentido pelo instinto, não na mente!
Vil metafísica do horror da carne,
Medo do amor...
Entre o teu corpo e o meu desejo dele
'Stá o abismo de seres consciente;
Pudesse-te eu amar sem que existisses
E possuir-te sem que ali estivesses!
Ah, que hábito recluso de pensar
Tão desterra o animal que ousar não ouso
O que a [besta mais vil] do mundo vil 
Obra por maquinismo.
Tanto fechei à chave, aos olhos de outros,
Quanto em mim é instinto, que não sei
Com que gestos ou modos revelar
Um só instinto meu a olhos que olhem ...
.....................................................................
Deus pessoal, deus gente, dos que crêem,
Existe, para que eu te possa odiar!
Quero alguém a quem possa a maldição
Lançar da minha vida que morri,
E não o vácuo só da noite muda
Que me não ouve.

X
O horror metafísico de Outrem!
O pavor de uma consciência alheia 
Como um deus a espreitar-me!
        Quem me dera
Ser a única [cousa ou] animal 
Para não ter olhares sobre mim!

XI
Um corpo humano!
Às vezes eu, olhando o próprio corpo, 
Estremecia de terror ao vê-lo 
Assim na realidade, tão carnal.

XII
................................................. Sinto horror 
À significação que olhos humanos
Contém...
.....................................................................
                        Sinto preciso
Ocultar o meu íntimo aos olhares
E aos perscrutamentos que olhares mostram;
Não quero que ninguém saiba o que sinto,
Além de que o não posso a alguém dizer...

XIII
Com que gesto de alma
Dou o passo de mim até à posse
Do corpo de outros, horrorosamente
Vivo, consciente, atento a mim, tão ele
Como eu sou eu.

XIV
Não me concebo amando, nem dizendo
A alguém "eu te amo" — sem que me conceba
Com uma outra alma que não é a minha
Toda a expansão e transfusão de vida
Me horroriza, como a avaro a idéia
De gastar e gastar inutilmente —
Inda que no gastar se [extraia] gozo.

XV
Quando se adoram, vividos,
Dois seres juvenis e naturais
Parece que harmonias se derramam 
Como perfumes pela terra em flor.
Mas eu, ao conceber-me amando, sinto
Como que um gargalhar hórrido e fundo
Da existência em mim, como ridículo
E desusado no que é natural.
Nunca, senão pensando no amor,
Me sinto tão longínquo e deslocado,
Tão cheio de ódios contra o meu destino. —
De raivas contra a essência do viver.

XVI
Vendo passar amantes
Nem propriamente inveja ou ódio sinto,
Mas um rancor e uma aversão imensos
Ao universo inteiro, por cobri-los.

XVII
O amor causa-me horror; é abandono, 
Intimidade...
... Não sei ser inconsciente 
E tenho para tudo [...]
A consciência, o pensamento aberto 
Tornando-o impossível.
E eu tenho do alto orgulho a timidez
E sinto horror a abrir o ser a alguém,
A confiar n’alguém.  Horror eu sinto
A que perscrute alguém, ou levemente
Ou não, quaisquer recantos do meu ser.
Abandonar-me em braços nus e belos 
(Inda que deles o amor viesse) 
No conceber do todo me horroriza;
Seria violar meu ser profundo,
Aproximar-me muito de outros homens.
Uma nudez qualquer — espírito ou corpo —
Horroriza-me: acostumei-me cedo
Nos despimentos do meu ser
A fixar olhos pudicos, conscientes.
Do mais. Pensar em dizer "amo-te"
E "amo-te" só — só isto, me angustia...

XVIII
[...] eu mesmo
Sinto esse frio coração em mim 
Admirado de ser um coração
Tão frio está.

XIX
Seria doce amar, cingir a mim 
Um corpo de mulher, mais frio e grave
e feito em tudo, transcendentalmente
O pensamento agrada-me, e confrange-me
Do terror de perto, e [junto]
Em sensação ao meu, um outro corpo.
Gelada mão misteriosa cai 
Sobre a imaginação [...]

XX
É isto o amor?  Só isto? [...]
.....................................................................
Sinto ânsias, desejos,
Mas não com meu ser todo.  Alguma cousa
No íntimo meu, alguma cousa ali
— Fria, pesada, muda — permanece.
[P'ra] isto deixei eu a vida antiga 
Que já bem não concebo, parecendo
Vaga já.
Já não sinto a agonia muda e funda 
Mas uma, menos funda e dolorosa,
[Bem] mais terrível raiva [...] 
De movimentos íntimos, desejos 
Que são como rancores.
Um cansaço violento e desmedido
De existir e sentir-me aqui, e um ódio
Nascido disto, vago e horroroso,
A tudo e todos...

XXI
— Amo como o amor ama.
Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.
Que queres que te diga mais que te amo,
Se o que quero dizer-te é que te amo?
.....................................................................
Quando te falo, dói-me que respondas
Ao que te digo e não ao meu amor.
.....................................................................
Ah! não perguntes nada; antes me fala
De tal maneira, que, se eu fora surda,
Te ouvisse todo com o coração.
Se te vejo não sei quem sou: eu amo.
Se me faltas [...]
... Mas tu fazes, amor, por me faltares
Mesmo estando comigo, pois perguntas —
Quando é amar que deves.  Se não amas,
Mostra-te indiferente, ou não me queiras,
Mas tu és como nunca ninguém foi,
Pois procuras o amor pra não amar,
E, se me buscas, é como se eu só fosse
Alguém pra te falar de quem tu amas.
.....................................................................
Quando te vi amei-te já muito antes:
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.
.....................................................................
E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma 'strada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é toda humana.
.....................................................................
Quando eu era pequena, sinto que eu
Amava-te já longe, mas de longe...
.....................................................................
Amor, diz qualquer cousa que eu te sinta!
— Compreendo-te tanto que não sinto,
Oh coração exterior ao meu!
Fatalidade, filha do destino
E das leis que há no fundo deste mundo!
Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto
De o sentir...?
.....................................................................

XXII
Pra que te falar?  Ninguém me irmana
Os pensamentos na compreensão.
Sou só por ser supremo, e tudo em mim
É maior.

XXIII
Reza por mim!  A mais não me enterneço.
Só por mim mesmo sei enternecer-me,
Soba a ilusão de amar e de sentir em que forçadamente me detive.
Reza por mim, por mim! Eis a que chega
A minha tentativa [em] querer amar.  

Referência: PESSOA, Fernando. Obra poética. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1981. 772 p.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Último trecho de Quem é John Galt?

Então o senhor dirá que o dinheiro é mau. Mau porque ele não substitui seu amor-proprio? Mau porque ele não permite que o senhor aproveite e goze sua depravação? É este o motivo de seu ódio ao dinheiro? O dinheiro será sempre um efeito, e nada jamais o substituirá na posição de causa . O dinheiro é produto da virtude, mas não dá virtude nem redime vícios. O dinheiro não lhe dá o que o senhor não merece, nem em termos materiais nem em termos espirituais.É este o motivo de seu ódio ao dinheiro? Ou será que o senhor que é o amor ao dinheiro que é a origem de todo mal? Amar uma coisa é conhecer e amar a sua natureza. Amar o dinheiro é conhecer e amar o fato de que o dinheiro criado pela melhor força que há dentro do senhor, a sua chave-mestra que lhe permite trocar o seu esforço pelo esforço dos melhores homens que há. O homem que venderia a própria alma por um tostão é o que mais alto branda que odeia o dinheiro – e ele tem bons motivos para ódia-los. OS que amam o dinheiro estão dispostos a trabalhar para ganhá-los. Eles sabem que são capazes de merece-los. Eis uma boa pista para saber o caráter dos homens: aquele que amaldiçoa o dinheiro obtém de modo desonroso; aquele que o respeita o ganha honestamente. Fuja do homem que o dinheiro é mau. Essa afirmativa é o estimga que identifica o saqueador , assim como o sino indicava o leproso. Enquanto os homens viverem juntos da terra e precisarem de um meio para negociar, se abandonarem o dinheiro, o único substituto que encontrarão será o cano do fuzil. Mas o dinheiro exige do senhor as mais elevadas virtudes e o senhor quer ganhá-lo ou conservá-lo. Os homens que não têm coragem, orgulho nem amor-próprio que não têm convicção moral de que merecem o dinheiro que têm e não estão dispostos a defendê-los como defendem suas própras vidas, os homens que pedem desculpas por serem ricos – esses não vão permanecer ricos por muito tempo. São presas fácil para o enxames de saqueadores que vivem debaixo das pedras durantes séculos, mas que saem do esconderijo assim que farejam um homem que pede perdão pelo crime de possuir riquezas. Rapidamente eles vão livrá-los dessa culpa – bem como de sua própria vida, que é o que ele merece. Então o senhor verá a ascensão dos homens que vivem uma vida dupla-  que vivem da força, mas dependem dos que vivem do comécio para criar o valor do dinheiro que eles saqueiam. Esses homens vivem pegando carona com a virtude. Numa sociedade onde há moral, eles são criminosos, e as leis são feitas para proteger os cidadãos contra eles. Mas quando uma sociedade  cria uma categoria de criminosos legítimos e saqueadores legais – homens que usam a força para se apossar das riqueza de vítimas desarmadas – então o dinheiro se transforma no vingador daqueles que o criaram. Tais  saqueadores acham que não há perigo em roubar homens indefesos, depois que aprovam uma lei que os desarme. Mas o produto de seu saque acaba atraindo outros saqueadores, que os saqueiam como eles fizeram com os homens desarmados. E assim continua, vendendo sempre não o que produz mais, mas aquele que é mais implacável em sua brutalidade. Quando o padrão é a força, o assasino vende o batedor de carteiras. E então esta sociedade desaparece, em meio a ruínas e matanças. Quer saber se este dia se aproxima? Observe o dinheiro. O dinheiro é o barômetro da virtude de uma sociedade. Quando há comércio não por consentimento, mas por compulsão – quando produzir é necessário pedir permissão a homens que nada produzem – quando o dinheiro flui para aqueles que não vendem produtos, mas influencia – quando os homens enriquecem mais pelo suborno e favores do que pelo trabalho, e as leis não protegem quem produz de quem rouba, mas quem rouba de quem produz – quando a corrupção é recompensada e a honestidade vira um sacrifício – pode ter certeza de que a sociedade está condenada. O dinheiro é um meio de troca tão nobre que não entra em competição com as armas e não faz concessão à brutalidade. Ele não permite que um país sobreviva se metade é propriedade, metade é produto de saques. Sempre que surgem destruidores, a primeira coisa que eles destroem é o dinheiro, pois o dinheiro protege os homens e constitui a base da existência moral. Os destruidores se apossam de outro e deixam em troca uma pilha de papel falso. Isto destrói os padrões objetivos e põe os homens nas mãos de um determinador arbitrário de valores. O dinheiro era um valor objetivo, equivalente à riqueza produzida. O papel é uma hipoteca sobre riquezas inexistentes, sustentado por uma arma apontada  para aqueles que têm de produzi-las. O papel é um cheque emitido por saqueadores legais sobre uma conta que não é deles: a virtude de suas vítimas. Cuidado que um da o cheque é devolvido, com o carimbo: “sem fundos”. Se o senhor faz mal o meio de sobrevivência, não é de se esperar que os homens  permaneçam bons. Não é de se esperar que eles continuem a seguir a moral e sacrifiquem suas vidas para o proveito dos imorais. Não é de se esperar que eles produzam quando a produção é punida e o saque é recompensado. Não pergunte quem está destruindo o mundo: é o senhor. O senhor vive no meio das maiores realizações da civilização mais produtiva do mundo e não sabe por que ela está ruindo a olhos vistos, enquanto o senhor encara o dinheiro como selvagens o faziam, e não sabe por que a selva está brotando nos arredores das cidades. Em toda a história, o dinheiro sempre foi roubado por saqueadores de diversos tipos, com nomes diferentes, mas cujo método sempre foi o mesmo: tomar o dinheiro à força e manter os produtores de mão atadas, rebaixados, difamados, desordenados. Esta afirmativa de que o dinheiro é a origem do mal, que o senhor pronuncia com tanta convicção, vem do tempo em que a riqueza era produto do trabalho escravo – e os escravos repetiam os movimentos que foram descobertos pela inteligência de alguém e durante séculos não foram aperfeiçoados. Enquanto a produção era governada pela força, e a riqueza era obtida pela conquista, não havia muito que conquistar. No entanto, no decorrer de séculos de estagnação e fome , os homens exaltam os saqueadores, como aristocratas da espada, aristocratas de estirpe, aristocratas da tribuna, e desprezavam os produtores, como escravos, mercadores, lojistas – industriais. Para a glória da humanidade, houve, pela primeira vez na história, uma nação de dinheiro- e não conheço elogio maior aos Estados Unidos do que esse, pois ele significa um país de razão, justiça, liberdade, produção, realização. Pela primeira vez, a mente humana e o dinheiro foram libertados, e não havia fortunas adquiridas pela conquista, mas só pelo trabalho, e ao invés de homens da espada e escravos, surgiu o verdadeiro criador da riqueza, o maior trabalhador, o tipo mais elevado de ser humano – o Self-made man – o industrial americano. Se me perguntar qual a maior distinção dos americanos, eu escolheria – porque ela contém todas as outras – o fato de que foram os americanos que criaram a expressão “fazer dinheiro”. Nenhuma outra língua, nenhum outro povo jamais usara estas palavras antes, e sim “ganhar dinheiro”; antes, os homens sempre encaravam a riqueza como uma quantidade estática, a ser tomada, perdida, herdada, repartida, saqueada ou obtida como favor. Os americanos foram os primeiros a compreender que a riqueza tem de ser criada. A expressão ‘fazer dinheiro’ resume a essência da moralidade humana. Porém foi justamente por causa desta expressão que os americanos eram criticados pelas culturas apodrecidas dos continentes de saqueadores. O ideário dos saqueadores fez com que pessoas como o senhor passassem a encarar suas maiores realizações como um estigma vergonhoso, sua propriedade como culpa seus maiores filhos, os industriais, como vilões, suas magníficas fábricas como produto e propriedade do trabalho muscular, o trabalho de escravos movidos a açoites, como na construção das pirâmides do Egito. As mentes apodrecidas que dizem não ver diferença entre o poder do dólar e o poder do açoite merecem aprender a diferença na sua própria pele, que, creio eu, é o que vai acabar acontecendo. Enquanto pessoas como o senhor  não descobrirem que o dinheiro é a origem de todo bem, estarão caminhando para sua própria destruição. Quando o dinheiro deixa de ser o instrumento por meio do qual os homens lidam uns com os outros, os homens se tornam os instrumentos dos homens. Sangue, açoites armas - ou dólares. Façam sua escolha – não há outra opção – e o tempo está esgotado.

domingo, 1 de setembro de 2013

"Quem é John Galt? trecho sobre Dinheiro Part.II

"Quem é John Galt?, da filosofa russa objetivista Ayn Rand, que viveu muitos anos nos Estados Unidos. A história é um romance, um livro denso e intenso, grande. São cerca de 1 mil páginas. Passa em uma época imprecisa, mas a autora dá a entender que é o início do século XX."

 Trecho digitado por Ernani Augusto de Andrade:

O dinheiro é feito pela inteligência em detrimento dos estúpidos? Pelos capazes em detrimento dos incompetentes? Pelos ambiciosos em detrimento dos preguiçosos? O dinheiro é feito _ Antes de poder ser embolsado pelos pidões e os saqueadores – pelo esforço honesto de todo homem honesto, cada um na medida de suas capacidades. O homem honesto é aquele que sabe  não pode consumir mais do que produz. Comerciar por meio do dinheiro é o código dos homens de boa vontade. O dinheiro baseia-se no axioma de que todo homem é proprietário de sua mente e seu trabalho. O dinheiro não permite que nenhum poder prescreva o valor do seu trabalho, senão a escolha voluntária do homem que está disposto a trocar com você o trabalho dele. O dinheiro que você obtenha em troca de seus produtos e do seu trabalho. O dinheiro não permite que nenhum poder prescreva o valor do seu trabalho, senão a escolha voluntária do homem que está disposto a trocar com você o trabalho dele. O dinheiro permite que você obtenha em troca dos seus produtos e do seu trabalho aquilo que esses produtos e esse trabalho valem para os homens que o adquirem e nada mais que isso. O dinheiro só permite os negócios em que há benefício mútuo segundo o juízo das partes voluntárias. O dinheiro exige o reconhecimento de que os homens precisam trabalhar em beneficio próprio, e não em detrimento de si próprio; para lucrar, não para perder; de que homens não são bestas de carga, que não nascem para arcar com ônus da miséria; de que é preciso oferecer-lhe valores, não dores; de que o vinculo comum entre os homens não é a troca de sofrimento, mas a troca de bens. O dinheiro exige que o senhor venda não a sua franqueza à estupidez humana, mas o seu talento à razão humana; exige que o senhor compre não  o pior que os outros oferecem, mas  o melhor que seu dinheiro pode comprar. E, quando os homens vivem do comércio – com razão e não à força, como árbitro irrecorrível -, é o melhor produto que sai vencendo, o melhor desempenho, o homem de melhor juízo e maior capacidade - e o grau da produtividade de um homem é o grau de sua recompensa. Este é o código da existência cujo instrumento s símbolo é o dinheiro. É isto que o senhor acha mau ? Mas o dinheiro é só um instrumento. Ele pode levá-lo onde o senhor quiser, mas não pode substituir o motorista do carro. Ele lhe dá meios satisfazer seus desejos, mas não lhe cria desejos. O dinheiro é o flagelo dos homens que tentam inverter a lei da causalidade – os homens que tentam substituir a mente pelo sequestro dos produtos da mente. O dinheiro não compra felicidade para o homem que não sabe o que quer; não lhe dá um código de valores se ele não tem conhecimento a respeito de valores, e não lhe dá um objetivo, se ele não escolhe uma meta. O dinheiro não compra inteligência para o estúpido, nem admiração para o covarde, nem respeito para o incompetente. O homem que tenta comprar o cérebro de quem lhe é superior para servi-lo, usando dinheiro para substituir seu juízo, termina vítima dos que lhe são inferiores. Os homens inteligentes o abandonam, mas o trapaceiro e vigaristas correm a ele, atraídos por uma lei que ele não descobriu: o homem não pode ser menor do que o dinheiro que ele possui. É por isso que o senhor considera o dinheiro mau? Só o homem que não precisa da fortuna herdada merece herdá-la – Aquele que faria sua fortuna de qualquer modo, mesmo sem herança. Se um herdeiro está a altura de sua herança, ela o serve; caso contrário, ela o destrói. Mas o senhor diz que o dinheiro o corrompeu. Foi mesmo? Ou foi ele que corrompeu seu dinheiro? Não inveje um herdeiro que não vale nada; a riqueza dele não é sua, e o senhor não teria tirado melhor proveito dela. Não pense que ela deveria ser distribuída; criar cinquenta parasitas em lugar de um só não reaviva a virtude morta que criou a fortuna. O dinheiro é um poder vivo que morre quando se afasta de sua origem. O dinheiro não serve à mente que não está a sua altura. É por isso que o senhor o considera mau ? O dinheiro é o seu meio de sobrevivência. O veredito que o senhor dá à sua própria vida. Se a fonte é corrupta, o senhor condena sua própria existência. O seu dinheiro provém da fraude? Da exploração dos vícios e da estupidez humana? O senhor o Obteve servindo aos insensatos, na esperança de que sua capacidade merece? Baixando seus padrões de exigência? Fazendo um trabalho que o senhor despreza para compradores que o senhor não respeita? Neste caso o seu dinheiro não lhe dará um momento sequer de felicidade. Todas as coisas que o senhor adquirir serão não um tributo ao senhor, mas uma acusação;

sábado, 31 de agosto de 2013

Quem é John Galt? trecho sobre Dinheiro Part.I

"Quem é John Galt?, da filósofa russa objetivista Ayn Rand, que viveu muitos anos nos Estados Unidos. A história é um romance, um livro denso e intenso, grande. São cerca de 1 mil páginas. Passa em uma época imprecisa, mas a autora dá a entender que é o início do século XX."

 Trecho digitado por Ernani Augusto de Andrade:

"Francisco parecia não tê-lo visto. Rearden esperou , reprimindo o desejo de aproximar-se; não tem sentido, depois da ultima conversa que tivemos; para quê? O que diria a ele? E então, com a mesma sensação de bem-estar, sorridente, quando deu por si estava arrevessando o salão, em direção ao grupo que se formara em torno de Francisco d'Anconia.
Ao olhar para aquelas pessoas, Rearden perguntava-se por que motivo elas se sentiam atraídas por Francisco, por que fechavam no meio de um circulo apertado, quando era obvio, apesar de todos aqueles sorrisos, que detestavam. Em seus olhar de raiva culposa.Francisco estava encurralado contra o lado de uma escadaria de mármore, meio debruçado, meio sentado nos degraus; a informalidade de sua postura, juntamente com a estrita formalidade de suas roupas, lhe davam um ar de suprema elegância. Seu rosto ero o único que exibia o ar despreocupado e o sorriso radiante que conduziam com uma festa; porém seus olhos pareciam  intencionalmente vazios de expressão, sem qualquer vestígio  de alegria, revelando- como sinal de alerta - apenas a atividade de uma mente acentuadamente preceptiva.
A margem do grupo, despercebido, Rearden ouviu uma mulher com grandes brincos de brilhantantes e um rosto flácido e tenso perguntar nervosamente:
-Sr.d'Anconiam o que o senhor acha que vai acontecer com o mundo?
-Exatamente o que ele merece.
-Ah como senhor é cruel!
- A senhora não acredita na lei moral? Madame? - perguntou Francisco, muito sério.-Eu Acredito.
Rearden ouviu Bertram Scudderm que estava fora do grupo , dizer a uma moça que emitira algum som que traduzira indignação.
-Não se incomode com ele . Sabe, o dinheiro é a origem de todo mal, e ele é um produto típico do dinheiro.
Rearden achou que Francisco não deveria ter ouvido o comentário, porém viu-o virar-se para eles com um sorriso muito cortes.
-Então o senhor acha que o dinheiro é a origem de todo mal ? O senhor  já se perguntou qual a origem do Dinheiro? O dinheiro é um instrumento de troca que só pode existir quando há bens produzidos  e homens capazes de produzi-los. O dinheiro  é a forma material do principio de que os homens que querem negociar uns com os outros precisam trocar um valor por outro. O dinheiro não é instrumento dos pidões, que pedem produtos por meio de lágrimas, nem dos saqueadores, que os que levam à força. O dinheiro  só se torna possivel através dos homens que produzem .É isto que o senhor considera mau? Quem aceita dinheiro como pagamento por seu esforço só o faz por saber que ele será trocado pelo produto de esforço de outrem . Não são os pidões nem os saqueadores que dão ao dinheiro o seu valor. Nem um oceano de lagrimas nem todas as armas do mundo podem transformar aqueles pedaços de papel no seu bolso no pão de que você precisa para sobreviver. Aqueles pedaços de papel, que deveriam ser outro. são penhores de honra; por meio deles você se apropria da energia dos homens que produzem. A sua carreira afirma a esperança de que em algum lugar no mundo a seu redor existem homens que não traem aquele principio moral que é a origem do dinheiro. É isto que o senhor considera mau? Já procurou a origem da produção? Olhe para um gerador de eletricidade e ouse dizer que ele foi criado pelo esforço muscular de criaturas irracionais. Tente plantar um grão de trigo sem os conhecimentos que lhe foram legados pelos homens que foram os primeiros a plantar o trigo. Tente obter alimentos usando apenas, movimentos físicos, e descobrirá que a mente do homem é a origem de todos os produtos e de toda a riqueza que já houve na terra.Mas o senhor diz que o dinheiro é feito pelos fortes em detrimentos dos fracos? A riqueza é produto da capacidade humana de pensar.Então o dinheiro é feito pelo  homem que inventa um motor em detrimento daqueles que não o invetaram?