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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Vivência/Movimento/Recorte

Cinema 

Persona-
Persona (br: Quando duas mulheres pecam / pt: A máscara) é um filme sueco de 1966, do gênero drama, escrito e dirigido por Ingmar Bergman.


Morangos Silvestres-
Smultronstället (br / pt: Morangos Silvestres) é um premiado filme sueco de 1957, do gênero drama, escrito e dirigido por Ingmar Bergman.


Audition-
Audition é um filme de terror japonês 1999 dirigido por Takashi Miike e Ryo Ishibashi e estrelado por Eihi Shiina. É baseado em um romance Murakami Ryu com o mesmo título.


A morte de um bookmaker Chines-
Um filme de John Cassavetes com Ben Gazzara, Timothy Carey : Cosmo Vitelli (Ben Gazzara) é o dono de uma boate de striptease em Los Angeles.


O mensageiro do Diabo-
The Night of the Hunter é um filme de 1955, dirigido por Charles Laughton, com Robert Mitchum e Shelley Winters. Conhecido no Brasil como O mensageiro do Diabo (Night of the Hunter)e em Portugal como A sombra do caçador.


Os 120 dias em Sodoma-
Salò ou os 120 dias de Sodoma (em Língua italiana Salò o le 120 giornate di Sodoma) é um polêmico filme italiano de 1975 dirigido pelo diretor Pier Paolo Pasolini.
O filme foi inspirado no livro Os 120 Dias de Sodoma do Marquês de Sade e conta a história de um grupo de jovens que sofre uma série de torturas por quatro fascistas durante o ano de 1944, quando a Itália era dirigida por Mussolini.


Amarcord-
Amarcord é um filme de produção franco-italiana de 1973, do gênero comédia dramática, dirigido pelo cineasta italiano Federico Fellini.


A ultima sessão de cinema-
The Last Picture Show (br: A Última Sessão de Cinema / pt: A Última Sessão) é um filme estadunidense de 1971, do gênero drama, realizado por Peter Bogdanovich.


Fargo-
Fargo é um filme de drama e humor negro dos Estados Unidos de 1996, realizado por Joel Coen.


Jogos Perigosos-
Um filme de Michael Haneke com Susanne Lothar, Ulrich Mühe : Uma família de classe média alta vai passar as férias em sua casa à beira de um lago.


Presiosa : uma História de esperança-

Precious (Precious (título em Portugal) ou Preciosa - Uma História de Esperança (título no Brasil)) é um filme de drama de 2009 do produtor e diretor Lee Daniels, estrelando Gabourey Sidibe, Paula Patton, Mariah Carey, Lenny Kravitz e Mo'Nique.

Fita Branca-

Das weiße Band (A Fita Branca (título no Brasil) ou O Laço Branco (título em Portugal)) é um premiado filme austríaco de 2009 dirigido por Michael Haneke, sobre um coral de crianças em uma vila no norte da Alemanha pouco antes da Primeira Guerra Mundial. De acordo com Haneke, o filme é sobre "a origem de todo tipo de terrorismo, seja ele de natureza política ou religiosa".
Venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 20092 e o Globo de Ouro de Melhor Filme (estrangeiro), em 17 de janeiro de 2010.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A irreversibilidade e o poder de perdoar ,Hannah Arendt

"O trecho a seguir é extraído do livro "A condição humana", de Hannah Arendt, publicado em meados da década de 50. Possivelmente é sua resposta à questão colocada à época, na qual se demonstrava o espanto de a humanidade continuar, após todos os desastres coletivos que se presenciou. Arendt, que fugiu para os Estados Unidos em decorrência direta de um dos desastres."(fonte:http://sevocedissertudooquequiser.blogspot.com.br/2013/01/a-irreversibilidade-e-o-poder-de-perdoar.html)


A irreversibilidade e o poder de perdoar



    Vimos que o que o animal laborans pôde ser redimido das vicissitudes do aprisionamento no ciclo sempre-recorrente do processo vital, da eterna sujeição à necessidade do trabalho e do consumo, unicamente mediante a mobilização de outra capacidade humana: a capacidade do homo faber de fazer, fabricar e produzir [making,and producing], o qual, como fazedor de instrumentos , não só atenua as labutas e penas do trabalho como erige um mundo de durabilidade. A redenção da vida, sustentada pelo trabalho, é a mundaniedade , sustentada pela fabricação. Vimos também, que o Homo Faber pôde ser remédio das vicissitudes da ausência de significado, “a desvalorização de todos os valores”, e da impossibilidade de encontrar critérios válidos em um mundo determinado pela categoria de meio e fins unicamente por meio da faculdade inter-relacionadas da ação e do discurso , que produzem estórias significativas com a mesma naturalidade com que a fabricação produz objeto de uso. E , se isso não estivesse fora do escopo destas considerações do pensamento ; pois o pensamento também é incapaz de “se pensar” fora das vicissitudes engendradas pela própria atividade de pensar. Em cada um destes casos , o que salva o homem -do animal laborans , homo faber ou pensador – é algo inteiramente diferente, algo que vem de fora, não do homem, por certo, mas de cada uma das respectivas atividades. Do que ele seja também um ser que conhece o mundo e nele habita; do ponto de vista do homo Faber, parece milagre , uma espécie de revelação divina, o fato de o significado ter um ligar neste mundo.
    Ocaso da ação e de suas vicissitudes é bem diferente . O remédio para a imprevisibilidade , para caótica incerteza do futuro, está contido na faculdade de prometer e cumprir promessas . As duas faculdades formam um par, pois a primeira delas , a de perdoar, serve para desfazer os atos do passado, cujos “pecados” pendem como espada de Dâmocles sobre cada nova geração; a segunda, o obrigar-se através de promessas,serve para instauras no futuro, que é por definição um oceano de incertezas, ilhas de segurança sem as quais nem mesmo a continuidade,sem falar da durabilidade de qualquer espécie, seria possível nas relações entre os homens.
    Se não fôssemos perdoados, liberados das consequências daquilo que fizemos, nossa capacidade de agir ficaria, por assim dizer, limitada a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos; seriamos para sempre vítimas de suas consequências, à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço.Sem estarmos obrigados ao cumprimento de promessas, jamais seriamos capazes de conservar nossa identidade; seriamos condenados a errar, desamparados e sem rumo, nas trevas do coração de cada homem, enredados em suas contradições e seus equívocos – trevas que só podem ser dissipados pela luz derramada no domínio público pela presença de outros, que confirmam a identidade entre aquele que promete e aquele que cumpre. Ambas as faculdades , por tanto dependem da pluralidade, da presença e da ação de outros, pois ninguém pode perdoar a si mesmo e ninguém pode se sentir obrigado por uma promessa feita apenas para si mesmo; o perdão e a promessa realizados na solitude e no isolamento permanecem sem realidade e não podem significar mais do que um papel que a pessoa encena para si mesma.
    Uma vez essas faculdades correspondem tão à condição humana da pluralidade, o papel que desempenham na política estabelece um conjunto de princípios orientadores diametralmente opostos aos padrões “morais” inerentes à noção platônica de governo. Pois o governo platônico, cuja legitimidade baseava-se no domínio do si-mesmo, extrai seus princípios orientadores -aqueles que justificam e ao mesmo tempo limitam o poder sobre outros – de uma relação estabelecida entre mim mesmo, de sorte que o certo e o errado nas relações com os outros são determinados pelas atitudes com relação ao si mesmo, até que todo o domínio publico passa ser visto à imagem do “homem escrito em maiúsculo”, da ordem adequada entre as capacidades individuais da mentes , da alma e do corpo do homem.Por outro lado, o código moral inferido das faculdades de perdoar e de prometer basear-se em experiências que ninguém jamais pode ter consigo mesmo e que , ao contrário, se baseiam inteiramente na presença de outros . E , do mesmo modos como a dimensão e as formas de governo de si[self-rule] justificam e determinam o governo dos outros – governa-se os outros como se governa a si mesmo -, também a dimensão e as formas do perdão e das promessas que o indivíduo recebe determinam a dimensão e as formas do perdão que ele pode ser capaz de conceder a si próprio ou do cumprimento de promessas que só a ele dizem respeito.
    Como os remédios contra o enorme vigor e resiliência dos processos da ação só são eficazes na condição de pluralidade, é muito perigosos usar esta faculdade em qualquer domínio que não assuntos humanos. A tecnologia e a ciência natural moderna, que já não colhem materiais natureza , nem observam e nem imitam seus processo, mas parecem realmente agir nela, aparentemente introduziram , por isso mesmo irreversibilidade e a imprevisibilidade humanas no domínio da natureza ,onde não há remédio para desfazer o que foi feito. Analogamente, parece que um dos grandes perigos de agir nos moldes da fabricação e dentro da estrutura de sua categoria de meios e fins reside na concomitante autoprivação dos remédios inerentes apenas à a ação, de modo que se é obrigado não só a fazer [do] recorrendo aos meios da violência necessários a toda fabricação, mas também a desfazer [undo] o que foi feito por meio da destruição como se destrói um objeto que não deu certo. Nada aparece de modo tão evidente nessas tentativas quanto a grandeza do poder humano cuja fonte reside na capacidade de agir e que, sem os remédios inerentes à ação, começa inevitavelmente a subjugar e a destruir, não o próprio homem, mas as condições nas quais a vida lhe foi dada.
    O descobridor do papel do perdão no domínio dos assuntos humanos foi Jesus de Nazaré. O fato de que ele tenha feito essa descoberta em um contexto religioso e a tenha anunciado em linguagem religiosa não é motivo para levá-la mesmo a sério em um sentido estritamente secular. È da natureza de nossa tradição de pensamento político (por móvitos nos quais não podemos nos deter aqui) ser altamente seletiva e excluir da conceituação articulada grande variedade de experiência políticas autenticas, entre as quais não se surpreendente encontrar algumas natureza elementar. Certos aspectos dos ensinamentos de Jesus de Nazaré que não relacionam basicamente com a mensagem cristã,mas surgiram de experiências da pequena e coesa comunidade e de seus seguidores,. Inclinada a desafiar as autoridades públicas de Israel, certamente incluem-se entre essas experiências políticas autenticas, embora tenham sido negligenciados me virtude de sua suposta natureza exclusivamente religiosa. O único sinal rudimentar da percepção de que i perdão pode ser corretivo necessário aos danos inevitáveis que resultam da ação pode ser visto no principio romano de poupar os vendidos (parecere subienctis) – uma sabedoria dos gregos desconheciam totalmente – ou no direito de comutar a pensa de morte, provavelmente também de origem romana que é a prerrogativa de quase todos os chefes de Estado ocidentais.
    È crucial pra nosso contexto que Jesus sustente contras os “escribas e fariseus”,que , em primeiro lugar , não é verdade que somente Deus tenha o poder de perdoar”, e em segundo lugar , que esse poder não deriva de Deus - como se Deus , e não os homens através de seres humanos-, mas, ao contrário deve ser mobilizado pelos homens entre si , antes que possam esperar serem perdoados também por Deus . A formulação de Jesus é radical. No evangelho não s expões que o homem perdoe sempre DEUS perdoa, e ele portanto, tem de fazer “o mesmo”m e sim “se cada um, no intimo do coração , perdoar, Deus fará “ o mesmo”. O motivo da insistência sobre um dever de perdoar é obviamente, que “eles não sabem o que fazem”, e não se aplica ao caso extremo do crime e do mal voluntário, pois do contrário não teria sido necessário ensinar que, “ se ele te ofender sete vezes no dia, e sete vezes no dia retornar a ti dizendo “me arrependo”, tu o perdoarás. O crime e o mal voluntário são raros, mais raros talvez que as boas ações; segundo Jesus, Deus se encarrega dele no dia do Juízo Final, que nenhum papel desempenha na vida terrena e tampouco se caracteriza pelo perdão, mas pela justa retribuição (apodounai).A ofensa, contudo, é uma ocorrência cotidiana , decorrência natural do fato de que a ação estabelece constantemente novas relações um teia de relações, e precisa do perdão , da libertação, para possibilitar que a vida possa continuar, desobrigado constantemente os homens daquilo que fizeram sem o saber.Somente mediante essa mutua e constante desobrigação do que fazem os homens podem ser agentes livres ; somente com a constante disposição para mudar de ideia e recomeçar pode-se confiar a eles um poder tão grande quanto o de começar algo novo.A irreversibilidade e o poder de perdoar
     Vimos que o que o animal laborans pôde ser redimido das vicissitudes do aprisionamento no ciclo sempre-recorrente do processo vital, da eterna sujeição à necessidade do trabalho e do consumo, unicamente mediante a mobilização de outra capacidade humana: a capacidade do homo faber de fazer, fabricar e produzir [making,and producing], o qual, como fazedor de instrumentos , não só atenua as labutas e penas do trabalho como erige um mundo de durabilidade. A redenção da vida, sustentada pelo trabalho, é a mundaneidade , sustentada pela fabricação. Vimos também, que o Homo Faber pôde ser remédio das vicissitudes da ausência de significado, “a desvalorização de todos os valores”, e da impossibilidade de encontrar critérios válidos em um mundo determinado pela categoria de meio e fins unicamente por meio da faculdade inter-relacionadas da ação e do discurso , que produzem estórias significativas com a mesma naturalidade com que a fabricação produz objeto de uso. E , se isso não estivesse fora do escopo destas considerações do pensamento ; pois o pensamento também é incapaz de “se pensar” fora das vicissitudes engendradas pela própria atividade de pensar. Em cada um destes casos , o que salva o homem -do animal laborans , Homo Faber ou pensador – é algo inteiramente diferente, algo que vem de fora, não do homem, por certo, mas de cada uma das respectivas atividades. Do que ele seja também um ser que conhece o mundo e nele habita; do ponto de vista do Homo Faber, parece milagre , uma espécie de revelação divina, o fato de o significado ter um ligar neste mundo.
   Ocaso da ação e de suas vicissitudes é bem diferente . O remédio para a imprevisibilidade , para caótica incerteza do futuro, está contido na faculdade de prometer e cumprir promessas . As duas faculdades formam um par, pois a primeira delas , a de perdoar, serve para desfazer os atos do passado, cujos “pecados” pendem como espada de Dâmocles sobre cada nova geração; a segunda, o obrigar-se através de promessas,serve para instauras no futuro, que é por definição um oceano de incertezas, ilhas de segurança sem as quais nem mesmo a continuidade,sem falar da durabilidade de qualquer espécie, seria possível nas relações entre os homens.
   Se não fôssemos perdoados, liberados das consequências daquilo que fizemos, nossa capacidade de agir ficaria, por assim dizer, limitada a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos; seriamos para sempre vítimas de suas consequências, à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço.Sem estarmos obrigados ao cumprimento de promessas, jamais seriamos capazes de conservar nossa identidade; seriamos condenados a errar, desamparados e sem rumo, nas trevas do coração de cada homem, enredados em suas contradições e seus equívocos – trevas que só podem ser dissipados pela luz derramada no domínio público pela presença de outros, que confirmam a identidade entre aquele que promete e aquele que cumpre. Ambas as faculdades , por tanto dependem da pluralidade, da presença e da ação de outros, pois ninguém pode perdoar a si mesmo e ninguém pode se sentir obrigado por uma promessa feita apenas para si mesmo; o perdão e a promessa realizados na solitude e no isolamento permanecem sem realidade e não podem significar mais do que um papel que a pessoa encena para si mesma.
   Uma vez essas faculdades correspondem tão peto à condição humana da pluralidade, o papel que desempenham na política estabelece um conjunto de princípios orientadores diametralmente opostos aos padrões “morais” inerentes à noção platônica de governo. Pois o governo platônico, cuja legitimidade baseava-se no domínio do si-mesmo, extrai seus princípios orientadores -aqueles que justificam e ao mesmo tempo limitam o poder sobre outros – de uma relação estabelecida entre mim mesmo, de sorte que o certo e o errado nas relações com os outros são determinados pelas atitudes com relação ao si mesmo, até que todo o domínio publico passa ser visto à imagem do “homem escrito em maiúsculo”, da ordem adequada entre as capacidades individuais da mentes , da alma e do corpo do homem.Por outro lado, o código moral inferido das faculdades de perdoar e de prometer basear-se em experiências que ninguém jamais pode ter consigo mesmo e que , ao contrário, se baseiam inteiramente na presença de outros . E , do mesmo modos como a dimensão e as formas de governo de si[self-rule] justificam e determinam o governo dos outros – governa-se os outros como se governa a si mesmo -, também a dimensão e as formas do perdão e das promessas que o indivíduo recebe determinam a dimensão e as formas do perdão que ele pode ser capaz de conceder a si próprio ou do cumprimento de promessas que só a ele dizem respeito.
   Como os remédios contra o enorme vigor e resiliência dos processos da ação só são eficazes na condição de pluralidade, é muito perigosos usar esta faculdade em qualquer domínio que não assuntos humanos. A tecnologia e a ciência natural moderna, que já não colhem materiais natureza , nem observam e nem imitam seus processo, mas parecem realmente agir nela, aparentemente introduziram , por isso mesmo irreversibilidade e a imprevisibilidade humanas no domínio da natureza ,onde não há remédio para desfazer o que foi feito. Analogamente, parece que um dos grandes perigos de agir nos moldes da fabricação e dentro da estrutura de sua categoria de meios e fins reside na concomitante autoprivação dos remédios inerentes apenas à a ação, de modo que se é obrigado não só a fazer [do] recorrendo aos meios da violência necessários a toda fabricação, mas também a desfazer [undo] o que foi feito por meio da destruição como se destrói um objeto que não deu certo. Nada aparece de modo tão evidente nessas tentativas quanto a grandeza do poder humano cuja fonte reside na capacidade de agir e que, sem os remédios inerentes à ação, começa inevitavelmente a subjugar e a destruir, não o próprio homem, mas as condições nas quais a vida lhe foi dada.
   O descobridor do papel do perdão no domínio dos assuntos humanos foi Jesus de Nazaré. O fato de que ele tenha feito essa descoberta em um contexto religioso e a tenha anunciado em linguagem religiosa não é motivo para levá-la mesmo a sério em um sentido estritamente secular. È da natureza de nossa tradição de pensamento político (por móvitos nos quais não podemos nos deter aqui) ser altamente seletiva e excluir da conceituação articulada grande variedade de experiência políticas autenticas, entre as quais não se surpreendente encontrar algumas natureza elementar. Certos aspectos dos ensinamentos de Jesus de Nazaré que não relacionam basicamente com a mensagem cristã,mas surgiram de experiências da pequena e coesa comunidade e de seus seguidores,. Inclinada a desafiar as autoridades públicas de Israel, certamente incluem-se entre essas experiências políticas autenticas, embora tenham sido negligenciados me virtude de sua suposta natureza exclusivamente religiosa. O único sinal rudimentar da percepção de que i perdão pode ser corretivo necessário aos danos inevitáveis que resultam da ação pode ser visto no principio romano de poupar os vendidos (parecere subienctis) – uma sabedoria dos gregos desconheciam totalmente – ou no direito de comutar a pensa de morte, provavelmente também de origem romana que é a prerrogativa de quase todos os chefes de Estado ocidentais.
   È crucial pra nosso contexto que Jesus sustente contras os “escribas e fariseus”,que , em primeiro lugar , não é verdade que somente Deus tenha o poder de perdoar”, e em segundo lugar , que esse poder não deriva de Deus - como se Deus , e não os homens através de seres humanos-, mas, ao contrário deve ser mobilizado pelos homens entre si , antes que possam esperar serem perdoados também por Deus . A formulação de Jesus é radical. No evangelho não s expões que o homem perdoe sempre DEUS perdoa, e ele portanto, tem de fazer “o mesmo”m e sim “se cada um, no intimo do coração , perdoar, Deus fará “ o mesmo”. O mativo da insistnecia sobre um dever de perdoar é obviamente, que “eles não sabem o que fazem”, e não se aplica ao caso extremo do crime e do mal voluntário, pois do contrário não teria sido necessário ensinar que, “ se ele te ofender sete vezes no dia, e sete vezes no dia retornar a ti dizendo “me arrependo”, tu o perdoarás. O crime e o mal voluntário sõa raros, mais raros talvez que as boas ações; segundo Jesus, Deus se encarrega dele no dia do Juízo Final, que nenhum papel desempenha na vida terrena e tampouco se caracteriza pelo perdão, mas pela justa retribuição (apodounai).A ofensa, contudo, é uma ocorrência cotidiana , decorrência natural do fato de que a ação estabelece constantemente novas relações um teia de relações, e precisa do perdão , da libertação, para possibilitar que a vida possa continuar, desobrigado constantemente os homens daquilo que fizeram sem o saber.Somente mediante essa mutua e constante desobrigação do que fazem os homens podem ser agentes livres ; somente com a constante disposição para mudar de ideia e recomeçar pode-se confiar a eles um poder tão grande quanto o de começar algo novo.


(ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Adriano Correia. Ed. Gen, Forense Universitária, 11ª edição, pp. 295-300). 

Herman Melville poema de Jorge Luiz Borges

Herman Melville

Sempre cercou o mar dos encentrais,
Os saxões, que o mar deram o nome
De rota da baleia, em que se juntam
As duas enormes coisas, a baleia
E os mares que longamente sulca.
Sempre foi seu mar. Quando seus olhos
Viram em alto-mar as grandes águas,
Já havia desejado e possuído
Naquele outro mar, é a da Escritura,
Ou então no dintorno dos arquétipos.
Homem, lanço-se aos mares do planeta 
È às extenuantes singraduras
E conheceu o arpão avermelhado
Por Leviatã e a raiada areia
E o perfume das noites e da aurora
E o horizonte em que o acaso espreita
E a felicidade de ser valente
E o prazer, por fim, de avistar Ítaca.
Debelador do mar, pisou a terra
Firme que é a raiz das montanhas
E na qual marca um vago itinerário, 
Quieta no tempo, a adormecida bússola.
Naquela herdada sombra dos pomares,
Melville cruza nas tardes New England
Mas habita o mar. É o opróbrio 
Do mutilado capitão do Pequod,
O mar indecifrável e as borrascas
E da brancura a abominação.
É o grande livro. É o azul Proteu.  


Referência: BORGES, Jorge Luis. Obras completas. São Paulo: Globo, 1998-1999. 3v.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Falência do Prazer e do Amor -Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

A Falência do Prazer e do Amor
Terceiro Tema
 
I
Beber a vida num trago, e nesse trago
Todas as sensações que a vida dá
Em todas as suas formas [...]
.....................................................................
Dantes eu queria
Embeber-me nas árvores, nas flores,
Sonhar nas rochas, mares, solidões.
Hoje não, fujo dessa idéia louca:
Tudo o que me aproxima do mistério
Confrange-me de horror.  Quero hoje apenas
Sensações, muitas, muitas sensações,
De tudo, de todos neste mundo — humanas,
Não outras de delírios panteístas
Mas sim perpétuos choques de prazer 
Mudando sempre,
Guardando forte a personalidade 
Para sintetizá-las num sentir.
             Quero
Afogar em bulício, em luz, em vozes, 
— Tumultuárias [cousas] usuais —
o sentimento da desolação
Que me enche e me avassala.
              Folgaria
De encher num dia, [...] num trago,
A medida dos vícios, inda mesmo
Que fosse condenado eternamente —
Loucura! — ao tal inferno,
A um inferno real.

II
Alegres camponeses, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n'alma essa alegria!
.....................................................................
Nem em criança, ser predestinado,
Alegre eu era assim; no meu brincar,
Nas minhas ilusões da infância, eu punha 
O mal da minha predestinação.
.....................................................................
Acabemos com esta vida assim!
Acabemos! o modo pouco importa!
Sofrer mais já não posso.  Pois verei —
Eu, Fausto — aqueles que não sentem bem
Toda a extensão da felicidade,
Gozá-la?
.....................................................................
                Ferve a revolta em mim
Contra a causa da vida que me fez
Qual sou.  E morrerei e deixarei
Neste inundo isto apenas: uma vida
Só prazer e só gozo, só amor,
Só inconsciência em estéril pensamento
E desprezo [...]
Mas eu como entrarei naquela vida?
Eu não nasci para ela.

III
Melodia vaga
Para ti se eleva
E, chorando, leva
O teu coração,
Já de dor exausto,
E sonhando o afaga.
Os teus olhos, Fausto,
Não mais chorarão.

IV
Já não tenho alma.  Dei-a à luz e ao ruído,
Só sinto um vácuo imenso onde alma tive...
Sou qualquer cousa de exterior apenas,
Consciente apenas de já nada ser...
Pertenço à estúrdia e à crápula da noite
Sou só delas, encontro-me disperso
Por cada grito bêbedo, por cada
Tom da luz no amplo bojo das botelhas.
Participo da névoa luminosa
Da orgia e da mentira do prazer.
E uma febre e um vácuo que há em mim
Confessa-me já morto... Palpo, em torno
Da minha alma, os fragmentos do meu ser
Com o hábito imortal de perscrutar-me.

V
Perdido
No labirinto de mim mesmo, já
Não sei qual o caminho que me leva
Dele à realidade humana e clara
Cheia de luz [...] alegremente 
Mas com profunda pesadez em mim 
Esta alegria, esta felicidade,
Que odeio e que me fere [...]
.....................................................................
Sinto como um insulto esta alegria
— Toda a alegria.  Quase que sinto
Que rir, é rir — não de mim, mas, talvez,
Do meu ser.

VI
Toda a alegria me gela, me faz ódio.  
Toda a tristeza alheia me aborrece, 
Absorto eu na minha, maior muito Que outras 
[...]
.....................................................................
Sinto em mim que a minha alma não tolera 
Que seja alguém do que ela mais feliz;
O riso insulta-me, por existir;
Que eu sinto que não quero que alguém ria
Enquanto eu não puder.  Se acaso tento
Sentir, querer, só quero incoerências
De indefinida aspiração imensa,
Que mesmo no seu sonho é desmedida ...

VII
tua inconsciência alegre é uma ofensa
para    mim.  O seu riso esbofeteia-me!
Tua alegria cospe-me na cara!
Oh, com que ódio carnal e espiritual
 escarro sobre o que na alma humana 
Fria festas e danças e cantigas...
....................................................................
Com que alegria minha, cairia
Um raio entre eles!  Com que pronto
Criaria torturas para eles
Só por rirem a vida em minha cara
E atirarem à minha face pálida
O seu gozo em viver, a poeira — que arda 
Em meus olhos — dos seus momentos ocos
De infância adulta e tudo na alegria!
.....................................................................
Ó ódio, alegra-me tu sequer!
Faze-me ver a Morte. roendo a todos, 
Põe-me ria vista os vermes trabalhando
Aqueles corpos! [...]

VIII
Triste horror d'alma, não evoco já
Com grata saudade, tristemente,
Estas recordações da juventude!
Já não sinto saudades, como há pouco
Inda as sentia.  Vai-se-me embotando,
Co'a força de pensar, contínuo e árido,
Toda a verdura e flor do pensamento.
Ao recordar agora, apenas sinto,
Como um cansaço só de ter vivido,
Desconsolado e mudo sentimento
De ter deixado atrás parte de mim,
E saudade de não ter saudade,
Saudades dos tempos em que as tinha.
Se a minha infância agora evoco, vejo
— Estranho! — como uma outra criatura
Que me era amiga, numa vaga
Objetivada subjetividade.
Ora a infância me lembra, como um sonho,
Ora a uma distância sem medida
No tempo, desfazendo-me em espanto;
E a sensação que sinto, ao perceber
Que vou passando, já tem mais de horror
Que tristeza [...]
E nada evoca, a não ser o mistério
Que o tempo tem fechado em sua mão.
Mas a dor é maior!

IX
Ó vestidas razões!  Dor que é vergonha
E por vergonha de si-própria cala
A si-mesma o seu nexo! Ó vil e baixa
Porca animalidade do animal,
Que se diz metafísica por medo
A saber-se só baixa ...
.....................................................................
Ó horror metafísico de ti!
Sentido pelo instinto, não na mente!
Vil metafísica do horror da carne,
Medo do amor...
Entre o teu corpo e o meu desejo dele
'Stá o abismo de seres consciente;
Pudesse-te eu amar sem que existisses
E possuir-te sem que ali estivesses!
Ah, que hábito recluso de pensar
Tão desterra o animal que ousar não ouso
O que a [besta mais vil] do mundo vil 
Obra por maquinismo.
Tanto fechei à chave, aos olhos de outros,
Quanto em mim é instinto, que não sei
Com que gestos ou modos revelar
Um só instinto meu a olhos que olhem ...
.....................................................................
Deus pessoal, deus gente, dos que crêem,
Existe, para que eu te possa odiar!
Quero alguém a quem possa a maldição
Lançar da minha vida que morri,
E não o vácuo só da noite muda
Que me não ouve.

X
O horror metafísico de Outrem!
O pavor de uma consciência alheia 
Como um deus a espreitar-me!
        Quem me dera
Ser a única [cousa ou] animal 
Para não ter olhares sobre mim!

XI
Um corpo humano!
Às vezes eu, olhando o próprio corpo, 
Estremecia de terror ao vê-lo 
Assim na realidade, tão carnal.

XII
................................................. Sinto horror 
À significação que olhos humanos
Contém...
.....................................................................
                        Sinto preciso
Ocultar o meu íntimo aos olhares
E aos perscrutamentos que olhares mostram;
Não quero que ninguém saiba o que sinto,
Além de que o não posso a alguém dizer...

XIII
Com que gesto de alma
Dou o passo de mim até à posse
Do corpo de outros, horrorosamente
Vivo, consciente, atento a mim, tão ele
Como eu sou eu.

XIV
Não me concebo amando, nem dizendo
A alguém "eu te amo" — sem que me conceba
Com uma outra alma que não é a minha
Toda a expansão e transfusão de vida
Me horroriza, como a avaro a idéia
De gastar e gastar inutilmente —
Inda que no gastar se [extraia] gozo.

XV
Quando se adoram, vividos,
Dois seres juvenis e naturais
Parece que harmonias se derramam 
Como perfumes pela terra em flor.
Mas eu, ao conceber-me amando, sinto
Como que um gargalhar hórrido e fundo
Da existência em mim, como ridículo
E desusado no que é natural.
Nunca, senão pensando no amor,
Me sinto tão longínquo e deslocado,
Tão cheio de ódios contra o meu destino. —
De raivas contra a essência do viver.

XVI
Vendo passar amantes
Nem propriamente inveja ou ódio sinto,
Mas um rancor e uma aversão imensos
Ao universo inteiro, por cobri-los.

XVII
O amor causa-me horror; é abandono, 
Intimidade...
... Não sei ser inconsciente 
E tenho para tudo [...]
A consciência, o pensamento aberto 
Tornando-o impossível.
E eu tenho do alto orgulho a timidez
E sinto horror a abrir o ser a alguém,
A confiar n’alguém.  Horror eu sinto
A que perscrute alguém, ou levemente
Ou não, quaisquer recantos do meu ser.
Abandonar-me em braços nus e belos 
(Inda que deles o amor viesse) 
No conceber do todo me horroriza;
Seria violar meu ser profundo,
Aproximar-me muito de outros homens.
Uma nudez qualquer — espírito ou corpo —
Horroriza-me: acostumei-me cedo
Nos despimentos do meu ser
A fixar olhos pudicos, conscientes.
Do mais. Pensar em dizer "amo-te"
E "amo-te" só — só isto, me angustia...

XVIII
[...] eu mesmo
Sinto esse frio coração em mim 
Admirado de ser um coração
Tão frio está.

XIX
Seria doce amar, cingir a mim 
Um corpo de mulher, mais frio e grave
e feito em tudo, transcendentalmente
O pensamento agrada-me, e confrange-me
Do terror de perto, e [junto]
Em sensação ao meu, um outro corpo.
Gelada mão misteriosa cai 
Sobre a imaginação [...]

XX
É isto o amor?  Só isto? [...]
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Sinto ânsias, desejos,
Mas não com meu ser todo.  Alguma cousa
No íntimo meu, alguma cousa ali
— Fria, pesada, muda — permanece.
[P'ra] isto deixei eu a vida antiga 
Que já bem não concebo, parecendo
Vaga já.
Já não sinto a agonia muda e funda 
Mas uma, menos funda e dolorosa,
[Bem] mais terrível raiva [...] 
De movimentos íntimos, desejos 
Que são como rancores.
Um cansaço violento e desmedido
De existir e sentir-me aqui, e um ódio
Nascido disto, vago e horroroso,
A tudo e todos...

XXI
— Amo como o amor ama.
Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.
Que queres que te diga mais que te amo,
Se o que quero dizer-te é que te amo?
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Quando te falo, dói-me que respondas
Ao que te digo e não ao meu amor.
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Ah! não perguntes nada; antes me fala
De tal maneira, que, se eu fora surda,
Te ouvisse todo com o coração.
Se te vejo não sei quem sou: eu amo.
Se me faltas [...]
... Mas tu fazes, amor, por me faltares
Mesmo estando comigo, pois perguntas —
Quando é amar que deves.  Se não amas,
Mostra-te indiferente, ou não me queiras,
Mas tu és como nunca ninguém foi,
Pois procuras o amor pra não amar,
E, se me buscas, é como se eu só fosse
Alguém pra te falar de quem tu amas.
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Quando te vi amei-te já muito antes:
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.
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E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma 'strada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é toda humana.
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Quando eu era pequena, sinto que eu
Amava-te já longe, mas de longe...
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Amor, diz qualquer cousa que eu te sinta!
— Compreendo-te tanto que não sinto,
Oh coração exterior ao meu!
Fatalidade, filha do destino
E das leis que há no fundo deste mundo!
Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto
De o sentir...?
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XXII
Pra que te falar?  Ninguém me irmana
Os pensamentos na compreensão.
Sou só por ser supremo, e tudo em mim
É maior.

XXIII
Reza por mim!  A mais não me enterneço.
Só por mim mesmo sei enternecer-me,
Soba a ilusão de amar e de sentir em que forçadamente me detive.
Reza por mim, por mim! Eis a que chega
A minha tentativa [em] querer amar.  

Referência: PESSOA, Fernando. Obra poética. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1981. 772 p.