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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

The Human Condition, Hannah

Em The Human Condition, Hannah Arendt se propõe a examinar aquilo que é especifico e o que é genérico na condição humana. Através de sua singularidade, diz ela, o homem retém a sua individualidade e, através de sua singularidade. Neste livro, como aponta Hans Jonas, o conceito central da reflexão politica da Hannah Arendt é a natalidade - o nascimento – ao contrario da morte, que caracteriza a metafisica. A natalidade significa que nós nos iniciamos para o mundo através da ação. Dai a relação entre nascimento e ação, que pode ser apreendida através da comunicação das experiências individuais. De acordo com Hannah Arendt, existem três experiências básicas. A primeira é do animal laborans, assinalada pela necessidade e concomitante futilidade do processo biológico, do qual deriva, uma vez que é algo que se consome no próprio metabolismo, individual e coletivo. No sentido etimológico, labor indica a ideia de tarefas penosas, que se cansam e, por esta razão, a primeira palavra, em português, que ocorre é “labuta”. De fato, trabalho, segundo muitos autores, vem do baixo latim tribalium, derivativo de três + plaus (três paus), aparelho destinado a sujeitar cavalos que não queriam se deixar ferrar. Tripaliare, trabalhar, significava torturar com o tripalium, que era um instrumento de três paus. Para outros autores, trabalho vem do baixo latim trabaculum, do latim trabs – trave, viga usadas também para ferra animais. Seja como for trata-se de viga de todos nós carregamos na penosa Sisifica labuta de lidar com a necessidade. A segunda experiência básica é a do homo faber, que cria coisas extraídas da natureza, convertendo o mundo num espaço de objetos partilhados pelos homens. O habitat humano está cercado de objetos que se interpõem entra natureza humana e o homem, unindo-se e separando-os entre si. Esses objetos são frutos de uma fazer, cuja origem vem de facere, significando atividade executada num determinado instante que, por isso mesmo tem começo, meio fim. O artesão é um homo faber, como também o é o artista, pois ambos fabricam objetos. Com a civilização industrial , de acordo como hannah Arendt , os artesãos, que tinham a dimensão do homo faber, converteram-se em animal laborans, e isto visto a dificultar , com o peso da necessidade , a terceira experiência básica . Esta é a da Vita Activa, que exige a liberação do julgo das outras para que se instaure o campo da politica . A politica resulta do agir, cuja origem provém de agere (pôr em movimento) e agere ( criar, trazer), que experimem uma atividade no seu exercício continuo e cuja a relevância produz gestas. A participação do gênero humano permite o conhecimento de gestas singulares, que se comunicam através da palvra, que é histórica. A linguagem para Hannah Arendt , constitui o repertório da experiência humana. O nomear das coisas, a criação de palvras é a forma de apropriação e desalienação do mundo , ao qual todos chegamos, pelo nascimento como novatos e estrangeiros. Esta volta à linguagem representa uma retomada de uma das linhas da tradição do pensamento , pois implica, na arqueologia das ciências humanas – para falar com Foucault - , a retomada de um conceito de positividade , em que o elemento regulador da verificação é a hermenêutica do significado da palavra, pois se postula uma correspondência entre a palavra e as coisas, entre significantes, significados e conjuntura. A retomada desta linha de tradição permitiu a Hannah Arendt romper o impasse da reflexão e do pensamento provocado pela ruptura entre passado e o futuro, ensejando o reencontro de um velho/ novo caminho para explicar e fundamentar as características da ação politica . Este caminho Hannah Arendt ilumina através dos exercícios de pensamento politico, que compõem o seu livro Between Past and Future. Neste livro, cuja segunda edições, revista e ampliada, é de 1968, mostra ela, a partir de sua resposta sobre a condição humana, que a palavra e a ação para se converterem em politica, requerem um espaço que constitui o mundo politico, cuja existência permite o aparecimento da liberdade. A liberdade , no espaço publiuco, exige a liberação da necessidade biológico do animal laborans; também não é o código do eu consigo mesmo do pensamento , onde nada vem do nada e onde tudo resulta da causalidade que regula o mundo externo dentro do qual se inserem os protagonistas. Não é igualmente a assim chamada liberdade moderna, que significa, desde loocke, uma esfera privada de ação individual mais ou menos extensas, não controlada pelo poder estatal, que tem o seu limite fixado nas normas que o contrato social estipula como sendo as necessárias para o convívio intersubjetivo. Liberdade, para Hannah Arendt, é a liberdade antiga, relacionada com á polis grega. Significa liberdade para participar, democraticamente, do espaço público da palavra e da ação. Liberdade, neta acepção, e a politica surgem do dialogo no plural, que aparece quando existe este espaço que permite viva e a ação vivida, numa unidade criativa e criadora. Este espaço é um espaço frágil e a verdade que informa o dialogo que nele se dá verdade factual, também é uma verdade frágil, posto que o seu modo de asserção não é evidência. Dai a permanente preocupação de Hannah Arendt com propaganda, a ideologia , a mentira, o image-making, o reescrever a posteriori da história, pois são todos fenômenos que comprometem e ameaçam a verdade factual. Dai resulta também a sua preocupação e o seu interesse, robustecido pela sua vivencia norte-americana, com a Universidade autônoma e com um judiciário independente como instancias publicas aptas a defender, pelas suas categorias, a integridade da verdade factual. Precisamente porque o espaço publico é frágil e suscetível de desaparecer no vórtice de imprevisibilidade dos fatos e dos acontecimentos é que ele precisa ser preservado por meio de instituições. Por isso, como observa Magaret Canovan, comentando um trecho de The Human Condition, trata-se de um espaço que precisava ser alicerçado na lei. Neste sentido, Hannah Arendt vê a lei , na sua a lei, na sua acepção grega, como uma atividade de homo faber, ou seja, como um artesanato dedicado à construção constitucional do espaço público, estabelecendo, deste modo, vinculo entre a permanência no tempo da vita Activa e o empenho durável dos objetos criados pelo Homo Faber. A acção politica da vita activa requer, diz Hannah Arendt , a concordância potencial dos outros .Esta surge em virtude da estrutura dialógica da política, alicerçada na verdade factual, tendo este dialogo entre iguais, como objeto Dúbia conflitiva , superáveis pela persuasão que permite o agir conjunto. È por isto que hannah Arendt chama atenção para a acepção romana de lei que, ao contrário da grega, não era coeva à fundação da polis. Para os romanos, de acordo com Hannah Arendt, a atividade legislativa não era pré-púbica. O sentido original de lex, aponta ela, era o de uma conexão intima, ou seja, uma relação conecta duas coisas ou dois parceitros que circunstâncias externas juntaram. O próprio povo romano- populus romanus- que deriva a sua existência não a uma unidade orgânica, a uma etnia, mas sim uma aliança perpétua entre patrícios e plebeus. O império romano, por sua vez não se esgota na noção de imperium num sistema de alianças em que o instrumento das leges foram utilizados para a celebração de tratados que ampliaram para outras províncias e outras comunidades os socii, que formavam a Societas Romana. Este esclarecimento das duas dimensões da atividade legislativa – a da construção constitucional, pelo Homo Faber, do espaço publico e da obtenção politica faz no espaço publico e da obtenção politica do acordo para agir conjunto – permitiu a Hannah Arendt discutira “fundação”, com a qual se inicia o agir conjunto, com o fundamento que confere autoridade ao poder. Autoridade lembra Arendt, deriva do verbo latino augere (aumentar), e o que a ação politica faz no espaço publico da palavra e da ação é acrescentar de feitos e acontecimentos, importância à fundação de comunidade politica e vida às suas instituições.
LAFER, Ceslo.Hannah Arendt:pensamento,persuasão e poder. são paulo:Paz e Terra, 2003 p.197.

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