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segunda-feira, 22 de julho de 2013

NAGEL E O ABSURDO

A NOÇÃO DE ABSURDO EM THOMAS NAGEL
“Não poderiam explicar realmente por que razão a vida é absurda.” (NAGEL, 2010).
Neste último capítulo pretende-se polemizar a questão de Camus, dizendo que não haveria motivos suficientes para chamar a vida de Absurda, mas dizer que a vida, de um modo geral, é sim desprovida de finalidade, justificativa e, portanto, o que Nagel denomina de sem sentido. No seu artigo filosófico sobre a questão do Absurdo, Nagel diz que nossa vida não é absurda meramente, porque não tem sentido (a) de que a seriedade com que levamos a nossa vida não é justificada; e (b) de que não podemos parar de levar a sério a nossa vida.
A QUESTÃO DO ABSURDO EM THOMAS NAGEL
A noção de Absurdo que um filósofo do século XXI faz menção e referências também para Albert Camus, torna-se relevante a esta pesquisa, pois alarga o uso do conceito, trazendo um novo olhar à questão da vida e suas incoerências clareza, para com o homem. Thomas Nagel (1937) é um filósofo americano, atua como professor na Universidade de Filosofia e Direito na Universidade de Nova York, onde ele leciona desde 1980. Suas principais áreas de interesse filosófico são a problemática da mente, política e ética. Ele é muito conhecido por sua crítica de reducionistas da mente em seu ensaio O que é que gosta de ser um morcego? De 1974 e por suas contribuições para o estudo deontológia teoria liberal moral e política, neokantiana,em A Possibilidade de Altruísmo, de 1970, e os outros escritos posteriores. Entre suas preocupações, como é natural de se esperar que filósofos devessem ter algo a falar sobre se a vida tem sentido, a questão recolocada por este filósofo, que Publicou originalmente como num artigo, sobre o sentido da vida e o absurdo, numa revista de filosofia da universidade de Cambridge. Nagel argumenta que nossa vida é sem sentido, e não absurda, “Além disso, falar de uma “vida sem sentido” não se limita a conotar o conceito de um absurdo”. Poderia ser absurda, porque ela envolve uma falta de critérios razoáveis, para a posse efetiva de sentido. “É inútil murmurar, a vida é destituída de sentido; a vida é destituída de sentido […] como um acompanhamento de tudo o que fazemos. Ao continuar a viver e a trabalhar e a labutar, levamo-nos, mas há sério ao agir independentemente do que dissermos. (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 732). Mas as situações do mundo são importantes e relevantes, pela relação que elas estabelecem uma com as outras, por exemplo, o dinheiro tem importância por causa daquilo que ele pode oferecer, mas não tem importância na sua própria realidade. Embora afirmem que seus raciocínios são longe de compreensão simples, como em relação ao Absurdo de Camus. Camus sustenta em O Mito de Sísifo que o absurdo emerge porque o mundo não obedece às nossas exigências de sentido. Isto sugere que o mundo poderia satisfazer tais exigências se fosse diferente. Mas agora podemos ver que isto não é assim. Não parece haver qualquer mundo concebível (que nos contenha) acerca do qual não possam levantar‐se dúvidas inapaziguáveis. Consequentemente, o absurdo da nossa situação não deriva de uma colisão entre as nossas expectativas e o mundo, mas de uma colisão no seio de nós (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 731). Este artigo, nesta pesquisa, torna-se rico, porque traz o conceito de Absurdo para a compreensão da vida. Com uma definição distinta dos escritos de Albert Camus, sendo Nagel o último filósofo a testemunhar a influência do argelino em sua obra.
O ABSURDO REVISITADO EM THOMAS NAGEL
O filósofo americano Thomas Nagel escreve um artigo com o título O Absurdo (The Absurd). Em 1971 publica para um jornal, da universidade em que leciona, (Universidade de Cambridge): O tema da sua conversação: [...] as razões avançadas em defesa desta convicção são patentemente desadequadas: não poderiam explicar realmente por que razão a vida é absurda. Por que constituem então uma expressão natural da impressão de que o é? (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 727). Este trecho demonstra de forma clara a semelhança com a questão de Camus (o ganhador do prêmio Nobel de 1957), também coloca no seu livro O Mito de Sísifo, afinal: o porquê o homem vive? Pergunta-se por que ele vive. Esse desconforto diante da inumanidade do próprio homem, essa queda incalculável ante a imagem do que nós somos, essa “náusea” como a denomina um autor dos nossos dias, é também o absurdo. De igual modo, o estranho que em determinados momentos vem ao nosso encontro num espelho, o irmão familiar e, no entanto, inquietante que reencontramos em nossas próprias fotografias, é ainda o absurdo (CAMUS, 2010, p. 28). Uma notável diferença é que, para Camus, o absurdo nasce ao homem da inconformidade com o exterior e interioridade consciente, o fora e o dentro, o mundo e os pensamentos, os sentidos e os fenômenos. O que Nagel argumenta é que “Dentro de nós” já existe toda uma ruptura com o mundo. Referências à nossa pequenez e a curta duração da vida e ao facto de que toda a humanidade acabará por desaparecer sem deixar traços são metáforas do passo atrás que nos permite encararmo‐nos a partir do exterior e achar curiosa e ligeiramente surpreendente a forma particular das nossas vidas. Simulando um ponto de vista de uma nebulosa, ilustramos a capacidade para nós vermos sem pressupostos, como ocupantes arbitrários, idiossincráticos e muitíssimo específicos do mundo, uma forma de vida entre incontáveis formas de vida possíveis (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 730). Mas sigamos a perspectiva de Nagel, no seu artigo escrito em língua inglesa, estruturado em sete tópicos. Pessoas sentem que a vida é absurda e alguns sentem vividamente e continuamente. No entanto, as razões geralmente oferecidas em defesa desta convicção são manifestamente inadequadas, e o argumento de que a vida não se pode explicar porque a vida é um absurdo. [...] dizemos para exprimir o absurdo de nossas vidas tem a ver, muitas vezes, com espaço ou tempo: somos partículas minúsculas na vastidão infinita do universo, nossas vidas são meros instantes, até mesmo em uma escala de tempo geológica, e muito menos em uma cósmica, nós estaremos todos mortos a qualquer momento. Mas é claro que nenhum desses fatos pode ser evidente, o que faz a vida absurda, se é absurdo (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 728). Nagel está sugerindo que o argumento a favor da absurdidade da vida falha sem nenhuma justificação, pois nada do que fazemos agora terá importância em um milhão de anos, ou seja, que faz a vida ser absurda se for mesma absurda. O filósofo americano afirma que uma situação é absurda “quando inclui uma discrepância óbvia entre a pretensão ou aspiração e a realidade” (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 729). A impressão de que a vida como um todo é absurda emerge quando nos damos conta que, de um modo indeterminado, uma pretensão ou aspiração de ideias, o que é inseparável da continuação da vida humana, é que torna o seu absurdo inevitável. As vidas de muitas pessoas são absurdas, temporária ou permanentemente, por razões comuns que têm a ver com as suas ambições, circunstâncias e relações pessoais. Se há uma acepção filosófica de absurdo, contudo, tem de emergir da percepção de algo universal — qualquer aspecto no qual a pretensão e a realidade inevitavelmente colidam, seja qual for a pessoa (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 729). Mas o que caracteriza o absurdo é a atitude humana que é o fato de muitas vezes darmos muita importância para alguma realidade, em descrédito de outras, esta escolha. É o que Nagel define como seriedade diante da vida e irrefutabilidade da dúvida. “Levamos algumas coisas mais, a sério do que as outras” (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 729). O que um filósofo quer dizer quando afirma que a vida humana é absurda? Na bibliografia sobre o sentido da vida, dizer que a vida humana é absurda frequentemente equivale a dizer que a vida humana não tem sentido objetivo. E dizer que a vida humana não tem sentido objetivo, por sua vez, significa dizer que a vida humana não tem valor ou não vale a pena ser vivida. Esta seriedade é colocada no sentido da problemática: afinal, qual é o compromisso que tenho comigo? Com a minha história? Com a minha situação na terra? Diz Nagel: “A vida humana é plena de esforço, planos, cálculos, sucesso e fracasso: conduzimos as nossas vidas, com diferentes graus de indolência e energia” (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 730). A intensidade com que cada ser humano pode atribuir importância à sua sobrevivência, vida sexual ou meio social pode variar, mas todo o ser humano, sem distinção, faz atribuições de valor e encara tais atribuições com seriedade. Esta é a nossa avaliação subjetiva ou o nosso ponto de vista “do interior” da vida, defende Nagel. Aqui a dimensão do absurdo fica latente, porque a vida é feita para se agir, mas, de maneira geral, o ser humano comporta-se de maneira prudente, mede risco, examina a situação. Nagel denomina como o “passo para trás” é a possiblidade humana de avaliar as justificativas das ações, tanto nos casos particulares como nas esferas sociais e históricas. O passo atrás crucial não é dado exigindo mais uma justificação na cadeia de justificações, que não existe. As objecções a esta linha de ataque foram já formuladas; as justificações chegam ao fim. Mas é precisamente isto que alimenta a dúvida universal. Damos um passo atrás e descobrimos que todo o sistema de justificação e crítica, que controla as nossas escolhas e sustenta o nosso direito à racionalidade, se apoia em respostas e hábitos que nunca pomos em questão, que não sabemos como defender sem circularidade, e aos quais continuaremos a dar a nossa adesão mesmo depois de serem postos em questão (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 730). O que parece conferir sentido ou justificação ou tornar significativo é em virtude do facto de não precisarmos de mais razões a partir de certo ponto para tomar uma decisão, o que torna a dúvida inevitável, com respeito a qualquer propósito mais vasto que encoraje a impressão de que a vida é significativa. Uma vez iniciada a dúvida fundamental, não pode ser abandonada. Mas Nagel afirma que o ser humano, ao ter a capacidade de autocrítica, autoconsciência, marca a indelével diferença entre os demais animais e mundo dos fenômenos. Por que não é absurda a vida de um rato? A órbita da Lua também não é absurda, mas não envolve quaisquer labutas ou objetivos. Um rato, contudo, tem de labutar para viver. Contudo, não é absurdo porque não tem as capacidades de autoconsciência e autotranscendência que lhe permitiriam ver que é apenas um rato. Se isso acontecesse, a sua vida tornar‐se‐ia absurda, dado que a autoconsciência não o faria deixar de ser um rato e não lhe permitiria elevar‐se acima das suas labutas de rato. Trazendo a sua nova autoconsciência, teria de retomar a sua vida árida, mas frenética, cheio de dúvidas a que não conseguiria responder, mas também cheio de propósitos que seria incapaz de abandonar (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 733). O camundongo teria agora dúvidas graves se pudesse tomar autoconsciência sobre aqueles propósitos que ele não pode abandonar? Antes que ele tivesse aquelas dúvidas, a vida dele, sobre seu ponto de vista, não era absurda, mas uma vez que tenha suas dúvidas, sua vida torna-se absurda, dado que ele não pode evitar, ele apenas busca seriamente seus propósitos, que são vitais. A sutil diferença entre humano e animais, explica Nagel, seria um campo transcendental, que apenas o homem está envolvido, a sua faculdade de sobrevoar sua existência e de intuir a transcendência. O ser humano, para Nagel, não pode evitar a autoconsciência, atingi-a ou a esquece, nenhuma pode ser alcançada pela vontade. Para travar a questão da absurdidade, diz Nagel, é possível por meio da possibilidade religiosa. E se alguém for bem-sucedido em tal empreitada de esvaziamento de mundo e a renúncia total de seu ser no mundo, terá que, depois desta purificação mental, tornar a consciência a uma vida mundana, portanto, que é encarar de forma muita árdua o mundo cotidiano. [...] para tentar destruir a outra componente do absurdo — abandonando a nossa vida humana, terrena e individual para nos identificarmos tão completamente quanto possível com o ponto de vista a partir do qual a vida humana parece arbitrária e trivial. (Este parece o ideal de certas religiões orientais.) Se formos bem‐sucedidos, não teremos de carregar a consciência superior ao longo de uma vida mundana árdua, e o absurdo diminuirá. Contudo, na medida em que este auto‐estiolamento resulta de esforço, força de vontade, ascetismo e assim por diante, exige que nos levemos a sério como indivíduos (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 732). Mas como evitar a saída extrema de levar a vida tão a sério, tornaria o homem, para auto definhamento, outra saida vida para é oo suicidio que é o que Camus propõe, mas Nagel quer evitar a absurdidade e o suicídio. Isto parece‐me romântico e levemente lamuriento. O nosso absurdo não justifica tanta aflição nem tanto despique. Correndo o risco de cair no romantismo por outra via, eu argumentaria que o absurdo é uma das nossas coisas mais humanas: uma manifestação das nossas características mais avançadas e interessantes. Como o cepticismo na epistemologia, só é possível porque temos um certo tipo de perspicácia — a capacidade para nos transcendermos em pensamento (NAGEL apud BONJOUR, 2010, p. 733). Nagel, para deixar a questão suave, disserta no final deste artigo sobre a lição de aprender de que nossa própria situação, que já é limitada, para deixar branda a questão ao homem, nem um demasiado desespero ou exaltado heroísmo, mas com uma certa medida de ironia e sagacidade pois afinal, como seres humanos temos consciência de nossa uma incapacidade para ver a irrelevância cósmica da situação em que estamos inseridos.
BONJOUR, Laurence & Baker, Ann. Filosofia, textos fundamentais comentados. Artmed, 2010 NAGEL, Thomas (1971) “O Absurdo”, Trad. D. Murcho, in Viver Para Quê? Ensaios sobre o sentido da vida. Lisboa: Dinalivro, 2009. ______. (1986) Visão a Partir de Lugar Nenhum. Trad. Silvana Vieira, São Paulo: Martins Fontes, 2004.